sábado, 19 de janeiro de 2019

Não há dinheiro nem para obras de manutenção na Biblioteca Municipal

Opinião

A poucos restarão dúvidas sobre a triste situação da nossa Câmara municipal. A gastar 40% do seu orçamento com pessoal e sem projectos a longo prazo, susceptíveis de vir a incrementar a economia local e a criação de emprego, a actual maioria lá vai fazendo a gestão que pode. Mesmo dispondo de maioria absoluta, abstém-se de implementar qualquer reforma susceptível de reduzir despesas fixas e permanentes, pois sabe muito bem, (ou julga saber, porque assim lhe disseram "de cima)", de onde lhe vêm os votos indispensáveis à manutenção no poder.

Trata-se pois de mais uma situação de sequestro da administração pública por um grupo específico, que se mantém coeso apenas graças às benesses que distribui. Mas é um estado de coisas  que não pode durar muito tempo. As verbas sequestradas para vencimentos e subsídios não podem ao mesmo tempo garantir o funcionamento eficaz dos serviços públicos, como já se nota um pouco por todo o país (hospitais, transportes, justiça, educação...)
Em Tomar, além do evidente marasmo geral, são cada vez mais as mazelas, tanto na cidade como no concelho. Uma delas é o estado lamentável em que se encontra a biblioteca municipal há mais de um ano, com baldes de plástico pelo chão (ver foto), para recolher a água das beiras da cobertura.
Questionado pelo semanário Cidade de Tomar, que publicou mais uma notícia sobre a degradação da biblioteca, o vice-presidente Hugo Cristóvão foi extremamente claro:

"O Jornal “Cidade de Tomar” questionou o vice presidente, Hugo Cristóvão sobre esta situação e para quando está previsto o início das obras de requalificação, o qual referiu que a câmara aguarda por uma candidatura onde se possa enquadrar a requalificação da biblioteca." 
(Cidade de Tomar, 18/01/2019, página 3, último parágrafo).

Noutros termos, entre outras iniciativas questionáveis, a câmara vai esbanjar quase 3 milhões de euros (dos quais cerca de 600 mil euros são verbas camarárias, e não da UE) na ornamentação da Várzea grande, obra cuja utilidade geral está longe de ser evidente, tanto mais que suprime centenas de lugares de estacionamento gratuito, só porque havia uma candidatura disponível a fundos europeus. Já no caso da biblioteca, cujo arranjo é urgente e inevitável, a câmara não faz obras porque está à espera de uma candidatura disponível a fundos europeus.
É isto a gestão municipal que temos em Tomar? Estar sempre à espera de fundos europeus, antes de elaborar qualquer projecto, ou pôr a concurso qualquer obra, por mais urgente que seja, assim como um pedinte, à saída da missa dominical do meio-dia, aguardando as esmolas para depois ir almoçar? E se um dia destes, que não deixará de vir, secar o manancial europeu, os senhores autarcas tomarenses fecham a tasca? Que é feito dos nossos impostos, que não são assim tão poucos?
Há aqui qualquer coisa que não está bem, nem para lá caminha. Há dinheiro para onerosas ornamentações, para ciclovias, para relvados sintéticos, para tapetes de judo, para ajustes directos vários, para festas, mas não há para reparar a cobertura, nem o sistema de aquecimento da biblioteca municipal, numa terra que se proclama de cultura?
                                                                      António Rebelo

4 comentários:

  1. Porque será que este brilhante, controverso, radical, astuto, atento, contestatário e tudo o mais que se possa adjetivar de cidadão tomarense, está sempre atento e pronto a criteriosamente fazer que contesta e àquela questão dos vultuosos dinheiros pagos pelo município de Tomar a um gabinete de advogados de Lisboa nada disse!
    Objetor de consciência, ou outra coisa qualquer? Explique lá à gentes, ó Senhor Doutor.
    Parece precisarem de óculos aí por Tomar!


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    Respostas
    1. Por favor, não tente afogar-me com tanta adjectivação. Não sendo funcionário nem jornalista profissional, conceda-me ao menos a liberdade de escolher os temas a abordar nas minhas crónicas. Ou também acha que nem esse direito tenho?
      Seja qual for a sua resposta, indo ao âmago da sua crítica, se reler com atenção o último parágrafo, lá encontra "dinheiro para ajustes directos VÁRIOS..." Não lhe parece suficiente? Está no seu direito. Mas então porque não mete também mãos à obra, criticando forte e feio, mas a direito, e assinando por baixo? Faz cada vez mais falta gente ousada que saiba pensar e escrever, duas coisas interligadas, como decerto não ignora.
      A terminar um agradecimento e um esclarecimento. Não posso deixar de agradecer o Doutor com as letras todas, num país onde confundem doutor = doutorado por uma universidade ou instituto que conceda esse grau; com dr. = titular de licenciatura, porém não mestrado nem doutorado.
      Quanto ao esclrecimento é muito simples: Ignoro se em Tomar parece precisarem ou não de óculos, entre outras coisas, acrescento eu. O que sei é que estou em Fortaleza - Ceará - Brasil, a 7 mil quilómetros de Tomar, até ao próximo mês de Maio. Como habitualmente, que aqui, entre outras vantagens, a temperatura é da ordem dos 25-30 graus celsius à beira-mar, ao longo de todo o ano. Hoje por exemplo, são quase 10 horas da manhã aqui, uma da tarde aí em Portugal e estamos com 27 graus, embora esteja a chover.
      Escreva sempre, pois é sempre agradável ler boa prosa, infelizmente cada vez mais rara. Mesmo entre os causídicos.

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  2. É verdade que a Câmara não tem dinheiro porque Tomar é uma cidade que tem vindo a empobrecer, de forma acelerada nos últimos 25 anos. Indústria não há, serviços públicos têm vindo a ser transferidos, como a PJ ou o Hospital, os serviços privados têm sede noutros locais (IBM, Continente, Pão A.). Ficam em Tomar os ordenados dos funcionários, regra geral pouco mais que ordenado mínimo, tal como acontece na hotelaria. Na administração pública os vencimentos acima de 900 euros estão congelados há 9 anos, ou seja, diminui todos os anos. 0 comércio, que para sobreviver tem que vender, defronta-se com a falta de dinheiro dos cidadãos.
    É verdade que não havendo receitas mais cuidado há que ter com a despesa e os investimentos. É claro que a questão do embelezar da várzea para turistas é muito discutível, ainda por cima quando expulsa o parqueamento usado pelos tomarenses. E ainda pior é a construção de ciclovias para lugar nenhum (ginásio ao ar livre?). De qualquer modo voltamos ao mesmo: o que querem os tomarenses? qual o seu grau de exigência perante os políticos? De lembrar que uma ciclovia (Prado) foi a vencedora de orçamento participativo; e que o arranjo da várzea mobilizou vários tomarenses "influentes".

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  3. Vergonha;

    Ciclovia Prado nao tem pés nem cabeça , obra nunca mais está acabada???

    Varzea grande nunca devia ser arranjada sem se ter em conta um parque subterrâneo com dois pisos a pensar nos proximos 50 anos no minimo.

    Emprego, industria onde está?..

    Ciclovias para quê se todos cada vez mais somos obrigados a desaparecer para outras paragens por nao haver motivação para cá ficar é óbvio eramos cerca de 45000 habitantes no concelho há 20 anos atras e agora andamos pelos 33000 cada vez mais esta terra fica deserta.

    E por ultimo a confirmar-se ficamos como reserva ecologica nacional pois isso interessa a alguem de certeza para que a nossa terra nao cresca assim ficamos confinados a nossa reserva com javalis que podem circular por aqui uma vez que futuramente será uma reserva ecologica a nossa querida cidade.

    Palavras para quê!!!

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