quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Erros de vocabulário de perspectiva e de prioridade

Opinião

As igrejas de S. João Baptista e de S. Francisco "vão ser alvo de remodelação", mas para isso será necessária uma reorientação dos fundos europeus, noticiou a Rádio Hertz, citando a senhora presidente da câmara, como se pode ler aqui.

Antes de mais, cumpre esclarecer que estamos perante um erro de vocabulário. Ou uma impropriedade vocabular, por outras palavras. Na verdade, os referidos templos poderão vir a ser restaurados, reabilitados, recuperados, beneficiados ou melhorados, mas nunca remodelados. Isto porque são igrejas e não se pensa, julgo eu, em alterar a sua função ou o seu modelo. E remodelar é mesmo isso - alterar o modelo. Acresce que se trata de edifícios classificados desde 1910, o que interdita qualquer obra que lhes modifique o aspecto ou o uso a que se destinam.

Há depois algo igualmente grave, mas de outra ordem. Quem siga atentamente a actividade autárquica, terá notado que o executivo se envolveu com verbas na reparação de uma dependência de S. João Baptista e na consolidação de alguns pilares no Aqueduto dos Pegões. Acontece que nem S. João Baptista nem os Pegões são da competência da autarquia. Tratando-se de monumentos nacionais pertencentes ao Estado, cabe ao Ministério da Cultura, via DGPC, o seu restauro e manutenção.

Temos assim que a Câmara se está a meter por caminhos que não são os seus. Não é caso novo. A anterior maioria PSD, entre outros erros, também providenciou para que o Governo financiasse a cobertura do claustro norte do Convento de S. Francisco, fingindo ignorar que se trata de um imóvel privado, que portanto não pertence sequer ao Estado. É da Ordem de S. Francisco.

Vem agora a líder da actual maioria PS acenar com obras na Igreja de S. Francisco, que considera prioritárias. Mas obras financiadas pelo Estado, ou pela câmara + fundos europeus, a que título? A igreja e o claustro norte são propriedade particular. Já pertenceram ao Ministério do Exército (ou ao Ministério da Defesa?), nos tempos da outra senhora. Contudo, na sequência da ida do 15 para o novo quartel, o ministério competente doou à autarquia "o aquartelamento de S. Francisco".

Era então presidente da Câmara o Dr. Amândio Murta, eleito numa lista da AD (PSD+CDS+PPM), que resolveu vender o claustro norte e a igreja à Ordem Terceira de S. Francisco, por 150 mil escudos (cerca de 700 € ao câmbio actual, sem actualização).

Nestas condições, como justifica a Câmara a sua intromissão em tarefas que não lhe competem, ao mesmo tempo que vai deixando para trás obras básicas que lhe competem, nomeadamente na área do saneamento e dos equipamentos para recepção de visitantes?

Julgo que por enquanto ainda vivemos num Estado de direito, no seio do qual cada órgão cumpre as funções que lhe cabem legalmente, sem invadir áreas alheias, mesmo por boas razões, uma vez que estão em causa dinheiros públicos, em relações aos quais todo o cuidado é pouco.

                                                                                             António Rebelo

10 comentários:

  1. Esqueceu-se de referir a Sinagoga

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    1. Agradeço o seu reparo.
      A Sinagoga é um caso mais complicado. Comprada por um refugiado judeu polaco, Samuel Shwartz foi por ele oferecida ao Estado, para nela funcionar um museu luso-hebraico.
      Desde antes do 25 de Abril que a autarquia vem tomando conta daquele templo, suponho que por incumbência do governo.
      De qualquer forma, as obras da Sinagoga, ("inchadas" indecentemente para justificar as verbas disponíveis), foram financiadas em grande parte graças a um donativo de uma fundação norueguesa.
      Continua por se saber porque custaram tanto dinheiro e duraram tanto tempo.

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  2. Esqueceu se foi de confirmar? Qual foi a “dependência” que a câmara arranjou em São João?

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  3. Peço desculpa se a autarquia não participou no superação daquele problema das "beiras" numa das capelas de S. Joâo. Estava convencido que tinha ajudado.
    De qualquer forma, segundo a notícia da Hertz, prometeu participar nas obras de restauro de S. João. Serão ainda essas reparações?

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    1. O que substituir telhas é arranjar dependências. E já agora se sabe tanto quanto foi a verba alucada à igreja de São João Baptista?
      Para alargamento de conhecimento não foi de uma capela foi mesmo da sacristia, assim já pode falar com mais conhecimento de causa

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  4. Como já não lhe cheirou, não respondeu mais.

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  5. As questões colocadas foram pertinentes. Quais foram as verbas alocadas às referidas obras??

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  6. Faça favor de se identificar cabalmente, com nome, foto e nº de CC e email, após o que terei todo o gosto em lhe responder detalhadamente, corrigindo eventualmente o que houver a emendar.
    Como anónimo estamos conversados.

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    1. Pois é. Temos todos muita coragem e estamos todos cheios de razão. Porém, quando se trata de mostrar a cara e "dar o peito às balas", aí o caso muda de figura. Pensamos com os nossos botões que mais vale o cobarde desconhecido e impoluto, que um herói identificado, mas enxovalhado.
      Gostos não se discutem. E cores também não.
      Há gente para tudo.

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