"O animal foi atropelado mortalmente durante a noite de quarta-feira para quinta-feira, foi recolhido pelos bombeiros e entregue no posto da GNR de Vila Nova da Barquinha. Não há registo de incidente nem da viatura que terá embatido no lince, uma vez que deve ter seguido a sua marcha", disse à agência Lusa a capitã Irina Pinto, do Destacamento Territorial da GNR de Torres Novas.
Contactada pela Lusa, Sofia Castel-Branco, do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), disse que foi "com tristeza" que recebeu a notícia, tendo feito notar que o atropelamento rodoviário é hoje "a maior causa de morte" do lince-ibérico.
Hongo, assim se chamava o macho de lince-ibérico, nasceu em Aznalcar, Espanha, em 2011, tendo sido localizado em Doñana, a 16 de outubro de 2012, e, posteriormente, em maio de 2013, numa zona de caça associativa em Vila Nova de Milfontes, Portugal.
"Este lince apresentava um comportamento dispersante, tendo realizado um longo percurso desde o sul de Espanha. Apesar de ter vivido durante cerca de dois anos na zona do sudoeste alentejano, nunca estabilizou a totalidade do seu território", notou a dirigente.
A responsável do ICNF disse ainda que este exemplar de lince-ibérico estava marcado com um colar emissor VHF, tendo observado que "as dificuldades verificadas no seu funcionamento dificultaram o trabalho de monitorização" dos técnicos do ICNF, tendo sido monitorizado, durante cerca de um ano, através de armadilhagem fotográfica e procura de vestígios de presença.
"Foi este acompanhamento que permitiu verificar os longos períodos de ausência do território de Milfontes, tendo o ICNF tido conhecimento de diversos avistamentos de lince-ibérico em diferentes zonas do território nacional, os quais seguiu com atenção, nomeadamente avistamentos entre Santarém, Cartaxo e Tomar".
Segundo a especialista, o comportamento dispersante do Hongo tem-se manifestado em outros espécimes de lince-ibérico, como é o caso do Kahn e do Kentaro, reintroduzidos em Castilla La Mancha, Espanha, e cujos movimentos dispersivos têm sido possíveis de seguir através dos seus emissores de satélite, encontrando-se atualmente na zona de Monchique e Bragança, respetivamente.
Sofia Castel-Branco considerou "um sucesso" o processo de reintrodução do lince-ibérico em Portugal, desde finais de 2014, "uma vez que permitiu a existência de 11 linces em território nacional", nove dos quais com comportamentos de fixação no território, no Vale do Guadiana, Mértola, e os outros dois (Kahn e Kentaro) com postura dispersante em termos territoriais.
"O investimento feito, ao longo da última década, nas melhorias de habitat, garantiu não só a fixação dos animais reintroduzidos como a receção de espécimes libertados em Espanha" observou.
Os novos desafios, destacou, "passam por consolidar a fixação de fêmeas reprodutoras em território nacional e a libertação de mais exemplares, trabalhar na minimização das causas de morte, ao nível da prevenção e sensibilização para uma condução responsável e segura nas estradas, e na melhoria dos índices de aceitação social da espécie".
Agência Lusa
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