Descaradamente, ou descarada mente?

Opinião
Sobre o desmantelamento dos SMAS e as declarações da sua presidente

Fica-se sem saber a que santo rezar, quando se acredita, ou que bruxa consultar, quando se prefere a crendice.

O desmantelamento dos SMAS é uma indisfarçável vergonha para uma gestão municipal que sempre os defendeu com unhas e dentes. Ou pelo menos sempre assim disse. Acossada pela evidência da imperativa necessidade urgente, a atual maioria transitória acabou dando o braço a torcer. Realismo a quanto obrigas. A ideologia não limpa as ruas, nem põe água a correr nas torneiras.
Tomar perde os SMAS e perde sobretudo o controlo sobre a distribuição de água, o saneamento  e a recolha ds resíduos sólidos no concelho. A nova entidade, que vem substituir a falida RESITEJO, alargando a sua influência à água e saneamento de Tomar, vai ser gerida e controlada de fato pelo Município de Ourém, que é o sócio maioritário, ainda para mais acolitado por três outros também do PSD (Ferreira, Mação e Sardoal). Ou seja 4 sócios fundadores PSD contra apenas 2 PS (Tomar e Barquinha).
Só decorrido algum tempo, se poderá vir a saber se essa transferência para Ourém do centro de decisão de fato é ou não um dado positivo. O que já se pode escrever é que a gestão dos SMAS foi de tal forma desastrosa, que culmina agora no seu enterro. Mas não é tudo, nem talvez o mais grave.
Numa atitude de evidente descaramento, em declarações à sua rádio oficial, a senhora presidente procurou, por todos os meios ao seu alcance, transformar numa grande vitória aquilo que é afinal uma das grandes  derrotas dos seus mandatos. Afirmou que, bem vistas as coisas, os SMAS continuam, só que num outro formato, com mais meios, pois  a nova empresa também é de capitais exclusivamente públicos. Afiançou também que os funcionários dos SMAS vão poder escolher as suas novas colocações, praticamente à vontade de cada um. Absteve-se porém de abordar o delicado dossier da falência da RESITEJO, de que o município era cliente. Continuamos assim sem saber se, por exemplo, o administrador senhor Carlos Carrão já calçou os patins ou se continua por lá.
A culminar, Anabela Freitas ousou dizer o que jamais algum consumidor dos SMAS imaginou. Sobretudo após as declarações da mesma senhora, no final do ano passado, dizendo que ia haver aumento da água, mas que seria suportado pelo orçamento municipal.
Pois agora - pasmai leitores-consumidores dos defuntos SMAS - a senhora presidente assegurou, sem se rir, que em 2020 os tomarenses vão poder poupar 16% na factura de água-esgotos-lixo. É verdade! Pode ler e ouvir aqui.
Ou seja, sem disso se dar conta, a eleita socialista veio confirmar duas coisas. Primeiro que durante anos e anos, incluindo os 6 anos de mandatos da senhora, os SMAS andaram a explorar os consumidores tomarenses, para fazer face a gritantes erros de gestão. Segundo, a nova entidade agora fundada não se vai guiar pelas boas práticas, mas sim pelo eleitoralismo. Como explicar de outro modo uma promessa de redução de encargos para os consumidores, da ordem dos 16%, no ano anterior às próximas autárquicas?
Face a  isto, para não alongar demasiado, pois quem lê já terá percebido tudo, resta uma interrogação aos tomarenses amantes de Tomar: Descaradamente, ou descarada mente?

                                                       Ovelha negra e ranhosa do rebanho nabantino

Nota da Redação: 
A Resitejo – Associação de Gestão e Tratamento dos Lixos do Médio Tejo, criada a 9 de agosto de 1996, é uma associação de 10 municípios - Alcanena, Chamusca, Constância, Entroncamento, Ferreira do Zêzere, Golegã, Santarém, Tomar, Torres Novas e Vila Nova de Barquinha – que tem como objetivo fundamental a gestão e o tratamento dos resíduos neles produzidos. Vai ser substituída pela nova empresa intermunicipal RSTJ - Gestão e Tratamento de Resíduos, que se vai dedicar à gestão de resíduos, limpeza urbana e valorização energética.

A Tejo Ambiente - Empresa Intermunicipal de Ambiente do Medio Tejo em processo de fundação, vai trabalhar na área do saneamento, abastecimento de água e recolha de lixo, substituindo vários serviços municipalizados. Além de Tomar, vão integrar a nova empresa os municípios de Ferreira do Zêzere, Mação, Sardoal, Ourém e Vila Nova da Barquinha.