quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Mais uma fantasia, mais uma futura desilusão - 1

Não tenho sorte nenhuma. Já tinha tema para outra crónica cáustica, sobre os resultados de Tomar no ranking nacional das escolas, quando me apareceu isto.

Tarefa ingrata esta. Mesmo quando se gosta de escrever. Fica-se partilhado entre o dever de cidadania e a solidariedade humana. Que impede, ou devia impedir, agressões ao próximo. Infelizmente, os meus pobres escritos são sempre considerados reles agressões, pelos políticos neles visados. É no que dá a geral falta de participação cívica. O poder local gosta mais do silêncio. É menos incomodativo. Mas pronto. O dever de cidadania está antes de tudo. Mesmo quando, como é o caso, a abordagem do assunto não é nada agradável.
Em mais uma das suas intervenções, sempre com um suplemento de fantasia, como convém em política, a senhora presidente afirmou que o Centro cultural da Levada "quer ser polo de atração turística nacional." Nem mais nem menos.
Trata-se obviamente de uma afirmação sem qualquer base séria, destinada a tentar entreter a opinião pública tomarense. Vejamos.
O conjunto Moinhos da ordem-Central elétrica-Moagem, foi doado ao Município pelo BES, após a falência de Fábricas Mendes Godinho. Diz o povo, sempre certeiro nestas coisas, que quando a esmola é grande, o santo desconfia.
No caso, o que terá levado o Banco Espírito Santo, que nunca teve fama de grande benemérito, salvo para os seus grandes acionistas e gestores, a doar ao Município de Tomar um tão grande conjunto edificado? Parece só haver uma resposta: Porque, tudo devidamente ponderado, incluindo a localização e o contexto, não lhe encontrou qualquer serventia capaz de gerar valor acrescentado, vulgo lucros. E as factos posteriores vieram confirmar essa visão dos banqueiros.
Entusiasmados com a doação e com os fundos europeus, os senhores autarcas locais, tando do PSD como do PS, andaram para a frente. Gastaram ali 6 milhões de euros (4,5 de Bruxelas e 1,5 do município), após o que ficaram com um conjunto que será muito bonito, porém em grande parte inútil e sem qualquer interesse arquitetónico.
E assim se ficou. Com o conjunto recuperado, reabilitado ou requalificado, (para usar o vocabulário dos senhores arquitetos), todavia sem qualquer hipótese de, no estado atual, poder servir para o que se pretendia. Que não é bem o que agora se pretende. A intervenção da senhora presidente, decerto bem intencionada, não passa afinal de mais uma fantasia, uma futura desilusão. Mais um poço sem fundo para o dinheiro dos contribuintes. Como se procurará demonstrar na próxima crónica, que esta já vai longa e os leitores não gostam de prosa prolongada. Cansa a cabeça.

                                                                A ovelha ranhosa do costume

9 comentários:

  1. Caro Excm.o ORC,

    Como Arquitecto, sinto-me ligeiramente ofendido por algumas das suas afirmações. No entanto, não lhes retiro validade nem certeza.

    O conjunto edificado tem relevância no contexto da arquitectura industrial nabantina, e principalmente, no contexto da cidade vs indústria. Não vou aqui comentar, ou criticar, a forma como foram efetuadas as obras de recuperação/requalificação do espaço, isso deixo para entidades mais competentes que eu (não tenho, por norma, fazer apreciações sobre projetos de colegas arquitetos).

    O conjunto edificado apresenta-se como um espaço bastante atrativo para a criação de um pólo cultural, pela sua localização previligiada, nomeadamente com a utilização dos Lagares D'el Rei para espetáculos e dos restantes espaços para exposições, certames ou outros eventos do género. Algo que falta na cidade de Tomar, com a exceção da Casa dos Cubos.

    Ainda mais falta faz é uma visão de futuro por parte da autarquia, que certamente irá usar o espaço para sua auto-promoção, em vez de o colocar ao dispor das entidades, coletividades e cidadãos da cidade, para ali poderem dar asas à sua criatividade e, com isso, projetar Tomar como um pólo cultural (em oposição ao turístico).



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    1. Peço desculpa por ter ofendido, mesmo ligeiramente. Não era, nem nunca é, essa a intenção.
      Como verá no próximo texto, o grande culpado pelas numerosas insuficiências da obra de recuperação, não foi o seu colega Chuva Gomes. Foram os seus colegas, e outros técnicos superiores, que acompanharam, ou deviam ter acompanhado, a elaboração do caderno de encargos. E, caso não tenham podido fazê-lo em condições, porque o presidente da época não era assim muito confortável para trabalhar, deviam ter-se pronunciado por escrito na fase de apreciação e posterior aprovação. Não o fizeram e o resultado aí está.
      Um conjunto bem recuperado mas praticamente imprestável para aquilo que se pretendia na época -um museu com três núcleos (fundição, electricidade, moagem), devido à falta de um caderno de encargos à altura. Faltam elementos essenciais, e até básicos. Não há, por exemplo casas de banho adequadas, em quantidade e capacidade.
      Ao contrário do que por aí se pensa, infelizmente não há uma só forma, mas várias formas de analfabetismo. Elaborar um caderno de encargos para um museu trinucleado, destinado à fruição turística, sem conhecer minimamente o turismo industrial moderno, sem nunca ter visitado nem os grandes museus, nem outras realizações semelhantes, é uma dessas formas de analfabetismo.
      No fundo, o que parece ter acontecido na autarquia tomarense naquela época é simples: Isto é meia bola e força. O que interessa é caçar os fundos europeus. O resto depois logo se vê.
      Claro que depois nunca mais viram nada, por estarem de facto na mesma situação daqueles dois invisuais que, após uma conversa na rua, se despediram dizendo "A gente depois vê-se por aí".
      E a situação mantém-se. A actual maioria e respectivos assessores técnicos (se existem de facto e se os ouvem), parece que ainda não assimilaram que aquele conjunto tem graves lacunas, as quais terão forçosamente de ser superadas, caso queiram mesmo fazer ali alguma coisa, que não seja só fachada e argumentação eleitoralista.

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  2. A presidenta tem delirios frequentes, este é apenas mais um. Nada de alarme. Afinal, é do que a senhora alimenta a sua chama politica, e é assim que vai dando sinais de vida politica. Mais um subsisio aqui, outro acolá, e a vida continua...no rumo certo.

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  3. O que aqui se diz mais parece a noção de senssura da Cristas de Leiria, ontem ao governo, não teve resultados nenhums saindo pior do que entrou.

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    1. É uma opinião. Tão boa quanto a ortografia usada. Quem escreve assim...

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    2. Não estou a ver a relação, mas enfim, você lá deve saber o que escreve.
      A Cristas saiu pior do que entrou? Ora essa! E porquê?
      Forçou o PSD a definir-se, o PCP a alinhar com o governo e os esquerdalhos do bloco a meterem a viola no saco, e ainda acha pouco? Para um partido com menos de 10% de votos, esteve bem melhor que os laranjas. E conseguiu irritar Costa outra vez, o que é sempre positivo.

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  4. Caro “ORC”, aguardo com elevada expectativa a crónica sobre o ranking escolar nabantino. Mais um sinal preocupante que se vem juntar a tantos outros.

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    1. Será uma elevada expectativa gorada, segundo julgo saber.
      De acordo com o já lido, esse tal ranking escolar mostra dois aspectos importantes no que concerne Tomar.
      Avulta, antes de mais, que Tomar não consegue ter nenhuma escola nas primeiras cem, ao contrário de Ourém (36ª), Leiria (45ª), Alcanena (41ª) ou Torres Novas (56ª). Refiro o ranking conjunto dos exames nacionais, onde a primeira escola de Tomar, a Jácome Ratton, aparece em 148º lugar.
      Nada mau ao nível local, quando se sabe que Santa Maria do Olival não foi além do 311º lugar. Uma vergonha.
      Vergonha agravada, quando se detalha um pouco mais e se verifica que na Jácome, que subiu em relação a 2017, o intervalo entre a média interna da escola (11,17) e a média dos exames nacionais dos alunos da mesma (13,44) é de 2,27 pontos, numa escala de zero a cem, contra 3,91 pontos, em Santa Maria (média interna 14,28, média dos exames nacionais 10,37), que desceu quase cem lugares em relação a 2017.
      Esta evidente discrepância evidencia, sem qualquer dúvida, que em Santa Maria têm tendência a empolar as notas, ou seja a considerar os alunos melhores do que na verdade revelam ser, quando confrontados com os de outras escolas e regiões. Têm portanto afigurações. Julgam-se melhores do que são na verdade. Há pior? Pois há sim senhor, mas o que nos deve importar é Tomar, pois, com o devido respeito, com as desgraças dos outros podemos nós muito bem.
      O intervalo escandaloso entre a Jácome e Santa Maria, 127 lugares, tal como a tendência para empolar notas, adquirem todo o seu significado quando se tem em conta que, desde sempre, a Jácome é a escola dos colarinhos azuis, da classe dominada, enquanto Santa Maria é a dos colarinhos brancos, da classe dominante. Já assim era nos idos tempos da Jácome e do Liceu, ou até, mais longe ainda, da prestigiada EICT e do CNA.
      O que permite perceber melhor porque está Tomar a definhar de dia para dia. Com a categoria dos dirigentes que temos tido e temos...
      Que tem isso a ver com os rankings escolares? Tudo. Porque se o povo diz que filho de peixe sabe nadar, também logo acrescenta que quem sai aos seus não degenera. E a maioria dos senhores dos Paços do concelho também eles são, salvo algumas excepções, antigos alunos de Santa Maria. A senhora presidente, por exemplo.
      Ora toma lá, leitor curioso, que é para tomares nota.
      Isto mesmo sem ovelha ranhosa também pode ser interessante.

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