terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Mais uma nódoa na reputação do destino turístico Tomar

Opinião

Sabe-se como os tomarenses têm orgulho, por vezes exagerado, na reputação  da sua terra. Com razão, diga-se de passagem. Tomar é indiscutivelmente a localidade com mais potencialidades na área do lazer cultural na região em que se insere. Há também Fátima, é verdade, mas trata-se de um fenómeno religioso. O que significa que, quem vai a Fátima vem geralmente também a Tomar, mas a recíproca nem sempre é verdadeira. O turismo cultural engloba o turismo religioso, mas este não inclui forçosamente o turismo cultural. Convém portanto ser cauteloso quando se faz a comparação entre os respectivos fluxos de visitantes.

Dito isto, é incontestável que Fátima recebe por ano bastante mais visitantes que Tomar. Tal com é fora de dúvidas que em Fátima abundam as excelentes estruturas de acolhimento, que primam pela ausência em Tomar. Em Fátima há estacionamento gratuito com fartura, acessos facilitados para todos, sinalização adequada, vastas instalações sanitárias modernas e limpas. Se é verdade indesmentível que o Convento de Cristo é, em termos de arquitectura, o principal monumento da região e mesmo do país, não o é menos que tem maus acessos, falta de estacionamento, sinalização deficiente, informação escassa, instalações sanitárias raras, sumárias e mal situadas, uma entrada que envergonha, pessoal de apoio mal preparado e mal pago.
Todas estas considerações para tentar enquadrar mais uma nódoa na reputação  nabantina enquanto destino turístico. Como bem sabem aqueles que não se limitam a simular que percebem algo de turismo, a indústria que se transformou numa das principais do mundo moderno - e representa 11% do PIB português - é afinal um conjunto de seis componentes. Ou seja, turismo é igual a monumentos + paisagens naturais, incluindo praias + transportes + restauração + alojamento + animação. Destes seis, há quatro que são primordiais. Sem atrativo e transporte ninguém vem. Sem alimentação e alojamento, ninguém fica.

Indo agora por componentes, Tomar tem sobretudo monumentos e paisagens, estando relativamente bem servida de transportes e de alojamento. Mas padece de carências graves na área da restauração. Isso mesmo constataram os inspectores do Guia Vermelho Michelin - Portugal, uma das bíblias do turismo moderno (a outra é o Guia Verde Michelin, no qual o Convento de Cristo "vale a viagem").
Na edição Portugal-Espanha para 2019, que acaba de ser lançada  com pompa e circunstância, não atribuem nenhuma estrela aos restaurantes da zona de Tomar, mas ainda assim assinalam 7 como merecendo destaque.
O primeiro, com "uma cozinha excelente a menos de 30€" é  O Malho e fica em Alcanena. O segundo e o terceiro, "com uma cozinha de qualidade, entre 25 e 30€" são o Santa Isabel e o Cascata, ambos em Abrantes. Seguem-se, na mesma categoria, o Tia AliceO Convite, em Fátima. A fechar a lista temos o Ponte Velha e o Santo Amaro, na Sertã.
Em síntese, aqui na zona centro, para visitar - Tomar. Para orar - Fátima. Para comer bem: Abrantes, Alcanena, Fátima ou Sertã. É mais uma nódoa na reputação  nabantina. Mas que havemos de fazer? É a verdade, vista pelos visitantes mais qualificados. Resta portanto continuar a trabalhar, agora com mais afinco e mais acerto. Os tempos do Zé Quitério no Expresso, e da Céu nas Algarvias, já lá vão.

Nota complementar
Sendo certo e sabido que uma desgraça nunca vem só, anota-se com tristeza que até agora, na informação da região, apenas o site mediotejo.net noticiou o lançamento e as classificações do Guia Michelin Vermelho. Isto apesar de um semanário tomarense ostentar todas as semanas, ao alto da sua primeira página, a menção "A sua informação na Zona Centro". 
Que rica informação!

(Porque a informação se faz informando, se quer conhecer as outras classificações do Guia Michelin Vermelho Portugal 2019, é só clicar aqui)
                                                                      António Rebelo


9 comentários:

  1. Respostas
    1. Não sou inspector do Michelin, nem conheço nenhum, para lhe perguntar.

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  2. O que tem que ser tem muita força. Comparar o turismo religioso de Ourém/Fátima (onde se pedem melhoras à Virgem ou o não agravamento das condições de vida), com Tomar (onde se espera o deslumbramento dos visitantes face ao centro histórico e ao convento) é como comparar o orçamento do Ministério da saúde com o Ministério da cultura. Pensar que a diferença está nos lugares de estacionamento, na sinalização ou nas retretes públicas é encontrar desculpas para o falhanço da ideia do turismo kultural como base do desenvolvimento da economia tomarense.

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    1. Permita-me que discorde.
      1 - Considero que está bem explicitado texto o que separa Fátima de Tomar. Basta ler com cuidado.
      2 - O que se pretendeu comparar foi o conjunto de estruturas de acolhimento existentes nas duas cidades.
      3 - Em circunstância alguma uma localidade sem meios básicos de acolhimento (informação, sinalização, estacionamento, sanitários, etc) poderá transformar-se num grande centro turístico.
      4 - Se vive em Tomar há pelo menos 20 anos, facilmente concluirá que existem agora menos instalações sanitárias públicas do que havia nos anos 90 do século passado. Será isto normal?

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  3. Mas será tão difícil perceber que Tomar sempre teve um papel relevante na economia nacional, sem depender do turismo? Primeiro como local estratégico na fase de "reconquista" aos árabes e. depois, como centro de repovoamento na região centro, sob a égide dos Templários. Que a questão dos "Cristãos-Novos" deu alento à economia local? Que o regresso de colonos do "ultramar" na década de 70 provocou um novo impulso económico local? Pretender que Tomar continuará a ser um pólo turístico é assumir que isso sempre contribuiu para 10-20% da economia tomarense e esquecer que os restantes 80% derivam, nos últimos 150 anos, da atividade industrial. Porque é que restaurantes de Tomar deviam ser contemplados com estrelas Michelin? Note-se que a população residente com poder de compra relevante está confinada a funcionários públicos SEM aumentos há 10 anos. Seriam estes os motores da restauração local? Seriam os turistas (os que estão de passagem e em número reduzido)?. Em Abrantes criou-se um núcleo de empresas em que pessoas com poder de compra podem dinamizar o comércio e restauração local (Mitsubishi, Bosch, Delphy, Central do Pego). Em Tomar não há poder de compra e todos estão em contemplaão do Convento...

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  4. Nódoa ou realidade? Porque é que Tomar havia de ser distinguido? Porque os tomarenses acham que são importantes? Uma espécie de aristocratas falidos?

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  5. Boas Festas
    Mal seria se Fátima não tivesse parques gratuitos (apenas os que pertencem ao Santuario!!!)Em Fátima, claro que todos os estacionamentos que não são propriedade do santuário , são pagos, sim senhor!
    Com os milhares de €€€ que caem nos cofres do santuário...Fátima não poderá ser comparada a outra qualquer cidade.
    Porque será que só é bom o que a Michelin distingue? Não se come bem em Tomar?
    Atirar pedras sempre...porquê?

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    1. Não escrevi em lado algum que "só é bom o que o Michelin distingue". A afirmação interrogativa é sua.
      Respondendo à sua outra pergunta, na minha opinião, comparando com as localidades à volta, não se come bem nem barato em Tomar.
      Por muitas voltas que dê à cabeça, não consigo entender como é que devido "aos milhares de €€€ que caem nos cofres do santuário, Fátima não poderá ser comparada a outra qualquer cidade." Aparece-me logo a pergunta: Nem com Lourdes, Santiago de Compostela, Guadalupe, N. S. Aparecida, ou S. Bento da Porta aberta?

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    2. Esqueci-me de referir as pedras na minha resposta anterior. Peço desculpa.
      Porque motivo criticar de forma fundamentada é, para sí, "atirar pedras"? Não será antes algo útil para que as entidades visadas possam ter uma referência que lhes permita melhorar, corrigindo o que está menos bem?

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