Na sequência da peça acerca da candidatura dos Tabuleiros à inscrição na lista do património imaterial da UNESCO, que pode ler aqui, um leitor esclarecido, devidamente identificado, como sempre deveriam fazer todos os outros, enviou este comentário:
joseaugustomirandajoaquim4 de janeiro de 2019 às 21:50
Parece-me que o artigo está incompleto, para a tese apresentada fazer sentido deveria ser explicado com maior detalhe a razão pela qual a UNESCO chumbou a candidatura de Nîmes
Filho de gente muito modesta, que nunca integrou a considerada "boa sociedade tomarense", seja lá isso o que for, a minha vida jamais me permitiu "andar a dormir". E esse hábito ficou-me. Dando razão ao leitor, imediatamente contactei, via mail, a UNESCO e à Câmara municipal de Nimes, que responderam nas 24 horas seguintes. Como devia fazer a câmara de Tomar, para respeitar quem a elegeu, mas em geral não faz. Se calhar porque não respeita nem se respeita.
Deixando para momento mais oportuno a resposta completa ao leitor antes citado, estimo ser agora boa altura para lembrar aos ligados à Festa alguns critérios da UNESCO para aceitar a candidatura de bens imateriais.
São cinco esses critérios, de R1 a R5, nos documentos oficiais daquela organização.
O critério R1 é pacífico. Refere que o bem a candidatar deve integrar previamente uma lista nacional, bem como a definição contida no ponto 2 da Convenção. No caso, a Festa grande tomarense entra na categoria de "manifestação festiva".
O critério R3 já é mais complexo. Estabelece que "Foram elaboradas medidas de salvaguarda, tendentes a proteger e promover o bem objecto da candidatura." No caso tomarense, se tal existe, ignoro quais sejam e onde possam ser consultadas.
Finalmente, o critério R4 pode vir a complicar singularmente a candidatura tomarense:"A candidatura do bem a inscrever foi apresentada após participação o mais ampla possível da comunidade, do grupo, ou, se for o caso, das pessoas a quem diga respeito, com o seu consentimento livre, prévio e esclarecido."
Na qualidade de Tomarense de nascimento, de vivência, de residência e de crença, com o devido respeito por todas as partes envolvidas, não me parece que este ponto R4 tenha sido, esteja a ser, ou possa vir a ser respeitado. O que nasce torto, tarde ou nunca se endireita, reza o conhecido provérbio.
Contratar alguém de fora para pilotar a candidatura, sem prévia e ampla auscultação pública sobre as bases e os objectivos da mesma, a curto, médio e longo prazo, só pode revelar desprezo pelos eleitores locais, o que aliás é habitual. A actual maioria parece considerar que, tendo ganho uma eleição, pode actuar em regime de "quero, posso e mando", sem dar cavaco às tropas. Esquecem-se que representam menos de um eleitor em cada quatro. Os restantes, ou votaram noutras formações ou se estiveram nas tintas para a ida às urnas. Eles lá sabem porquê.
Não estando aqui em causa as qualidades da pessoa contratada (por ajuste directo, como é usual), um prestigiado universitário alentejano, cuja principal referência neste caso é a candidatura com êxito da Festa da Flor em Campo Maior, convém contudo não esquecer que se trata de alguém que nunca residiu, nem reside em Tomar, e que a única relação entre a festa de Campo Maior e a dos Tabuleiros são as ruas populares ornamentadas. Só falta mesmo determinar quem copiou quem. A experiência demonstra, designadamente no caso de Santarém, que o recurso a especialistas exteriores pode ficar caro e não correr bem. De todo.
Dirão os habituais louvaminhas da actual maioria autárquica que não havia em Tomar ninguém qualificado para dirigir tal candidatura. Mas havia. O autor destas linhas também tem amplos pergaminhos universitários, reconhecidos internacionalmente, e também já elaborou uma candidatura vencedora à UNESCO -a do Convento de Cristo, em 1983. É coisa velha, bem sei. Mas o Convento de Cristo está em Tomar e integra a lista do património mundial edificado -a mais nobre- e não a do património imaterial.
Em qualquer caso, que fique aqui claro e bem claro: Apenas escrevo para memória futura. Para que não caia no esquecimento, aconteça o que acontecer. Por razões que ignoro, eventualmente por não integrar a tal "boa sociedade tomarense", e por isso não estar nas boas graças de quem ocupa até 2021 a cadeira do poder, nunca fui contactado a propósito de tal candidatura.
Agora é demasiado tarde. Como dizem os meus compatriotas de adopção "Avant l'heure ce n'est pas l'heure; après l'heure ce n'est plus l'heure". Para quem não entenda francês: "Se antes era demasiado cedo, agora é tarde demais".
Desejo naturalmente as maiores felicidades à candidatura tomarense, bem como a todos os nela envolvidos.
António Rebelo
Mas devias. Devias ter sido contactado. É por essas e por outras que as cabras marram umas nas outras. Ando a ler um excelente documento (Sustainable Equality) elaborado por um think tank do grupo parlamentar dos democratas e socialistas da UE (196 pp) com recomendações rigorosas para que se mobilize a sociedade civil a participar nas decisões políticas, especialmente a nível local. Foi-me oferecido por c. eletrónico pela Social Europe EU. Recomendo a todos os socialistas, especialmente aos seus dirigentes para o discutir com os seus militantes, aberto à soc. civil. Não sei bem porque ando a lê-lo- É o bichinho. Passei há muitos anos pelo PS, fui secretário de uma secção e um dia - cá por coisas... - colei um pequeno cartaz na porta de entrada: aqui dentro discute-se política. Também não sei bem porque estou a escrever isto.
ResponderEliminarRecordações, Fernando! Tempos idos. Também fui do PS. Até liderei a primeira sessão de esclarecimento do partido em Tomar, no então Grémio do comércio, em Maio de 1974.
EliminarDepois fui vogal na AM, (Agora diz-se "deputado mujnicipal"),tendo como colegas de bancada o Eurico Rosa e o Bruno Graça, vê tu bem.
Secretário da secção de Tomar (agora diz-se presidente da comissão política), integrei a Comissão distrital e a Comissão nacional do PS.
Outros tempos, amigo Fernando, outros tempos. Quando, como tu escreves, ainda se discutia política. Depois, o espírito de rebanho...
Só tenho duas frases distintas de repudio pela atuação da câmara:
ResponderEliminar1 - Desrespeito pelos cidadãos Tomarenses pelo facto de ter ido buscar alguém que não é da Terra para elaboração da Candidatura não tendo essa pessoa ligação a Tomar nem a dita Festa do Tabuleiros " espero não estar errado caso esteja agradeço que seja informado"
Gasto de dinheiros sem nexo e sem discussão publica significa abuso de poder e falta de respeito, sem o consentimento da população sobre o que ia ser feito, para com os poucos eleitores que votaram já para não falar naqueles que pelos mais diversos motivos se absterão do voto "talvez por acharem que é uma perca de tempo pois nunca nada muda o melhor exemplo é o emprego que nestes 4 anos é o quê 1%??? nada de industria e tudo só comercio local" ora assim e sem que para tal tenha existido nestes últimos 4 anos uma ampla discussão pública que eu me lembre nunca tal foi proposto para discussão pública aparece agora tipo bomba esta candidatura bombástica isto só mesmo em Tomar basta meia dúzia de Cidadãos de sangue azul decidirem tudo por todos os restantes sem que haja consulta Pública.
Não parece todos temos medo de falar em Tomar somos logo apontados e postos de lado.
Para quem se goza de passar parte do ano no Brasil é habitante em Tonar durante muito tempo. Sinceramente nem sei se o senhor cá está para a festa ou se até não fará parte daqueles que nem votaram por estar fora
ResponderEliminarEstará decerto à espera que lhe responda. Pois aqui vai a minha resposta: Parlermices sem pés nem cabeça, da parte de quem não consegue ver mais.
EliminarTenha maneiras! Não seja um sórdido porco anónino!
EliminarO homem tem 77 anos é dó desde há 3 é que vai passar parte do ano ao Brasil. Continua a ser residente, eleitor e contribuinte em Tomar, segundo julgo saber. Como não exerce qualquer cargo público, que autoridade moral ou outra tem você para se tentar intrometer na vida dele?
É também por isso que querem transformar a cidade em reserva ecológica nacional. Com nabos labregos como você, é uma medida justificada e que se impõe.
A "VISÃO" da Camara para este assunto, é a mesma que para todos os outros: curta e limitada.
ResponderEliminarEstá na moda? Avança-se!
Com quem? Com quem estiver à mão!
Porquê? Porque sim!
Por onde? O especialista saberá!
Quando? O especialista saberá!
Como? O especialista saberá!
ps: estar no Brasil ou na China, não é relevante para o caso. Ou há intersse e capacidade, ou não há!
Saúdo o António Rebelo pela atenção que dedicou ao meu comentário e aguarda com sincero interesse a razão pela qual Nîmes retirou a sua candidatura
ResponderEliminarRelativamente às trocas de galhardetes tão em voga neste blog são lamentáveis, pese embora ter uma certa inveja porque elas revelam que os internautas tem uma coisa que me falta: Tempo...
Anedótico. Disto só em TOMAR
ResponderEliminarAmo a minha cidade. Envergonho-me dos seus GOVERNANTES.