domingo, 13 de janeiro de 2019

Sobre a candidatura dos Tabuleiros à UNESCO - 4

Opinião

Aparentemente pelo menos, regressou-se à usual normalidade sonolenta. Os "palpiteiros" ao serviço de causas perdidas meteram a viola no saco. Conformados? Logo se verá. Certo, mesmo certo, é que o primeiro texto sobre a candidatura teve 19 comentários em todos os tons, o segundo apenas 9 e o terceiro só 3, sendo um meu e dois do mesmo simpático leitor.

É portanto num ambiente de aparente serenidade geral que escrevo estas linhas, cujo objectivo principal, para além da informação pública, é tranquilizar os eleitos da maioria. Que bem precisam, tantas são as asneiras que por aí vão.
Neste caso da candidatura dos Tabuleiros à UNESCO, partindo do princípio que tudo corra pelo melhor, no melhor dos mundos possíveis, e tendo em conta o normativo daquela organização internacional, as coisas vão evoluir do modo seguinte, salvo qualquer sobressalto:
1 - O especialista contratado terá de entregar o processo completo de candidatura até Dezembro próximo, caso a autarquia pretenda que os Tabuleiros possam integrar o inventário nacional dos bens imateriais no próximo ano.
2 - Essa indispensável inscrição no inventário nacional, que não deverá encontrar obstáculos, uma vez que a Câmara é PS, o governo será PS segundo tudo indica, e o comité nacional da UNESCO nunca contrariou quem o subsidia, terá de ocorrer antes de 31 Março de 2020, data limite para a entrega de candidaturas na UNESCO.
3 - Se a candidatura tomarense for entregue em Março de 2020, será depois avaliada pela entidade competente entre Dezembro de 2020 e Maio de 2021.
4 - Caso seja considerada completa e adequada, a candidatura dos Tabuleiros  será então objecto de avaliação final entre Abril e Junho de 2021.
5 - Finalmente, se ultrapassadas com êxito todas as etapas anteriores, o exame  do comité da UNESCO e o anúncio da decisão definitiva terão lugar em Novembro/Dezembro 2021.

Por conseguinte, por mais rápido que seja o processo de candidatura e qualquer que venha a ser o seu resultado, até final deste mandato não haverá qualquer resultado, para além da eventual e taxativa inscrição no inventário nacional do património imaterial. Podem assim dormir mais descansados os autarcas autores da ideia de recorrer a um especialista exterior para liderar uma candidatura tomarense. Assim como quem compra um "apartamento chave na mão e pronto a habitar". Ou um "circuito turístico tudo incluído". Sinal dos tempos.
Há contudo a hipótese de um obstáculo de peso. Nini Ferreira dizia algumas vezes, e escreveu numa das suas obras, que o forasteiro vem ver a Festa grande, mas o seu olhar é diferente do nosso, dos tomarenses de verdade. Sendo um dado adquirido, é essa diferença que pode virar-se agora contra nós, os que gostamos da Festa, nesta época ferozmente igualitária. É que, aos olhos de alguns forasteiros, sobretudo das e dos feministas mais ferrenhos, no cortejo dos tabuleiros as portadoras são "burras de carga" e os ajudantes "capatazes". Livremente, bem sei. Sabemos todos. Mas isso não altera nada para as e os feministas encartados.
E nos comités internacionais especializados há sempre alguns extremistas. Ao que me consta,  já na candidatura de cante alentejano, não foi nada fácil explicar com êxito a ausência de mulheres.
                                                                            António Rebelo

8 comentários:

  1. Sr. Rebelo,então acha que não se deve fazer a candidatura? Não envontra neste processo nada de positivo? Acha que há alguma coisa que se possa fazer para impedir a decadência de Tomar?

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    1. É minha opinião que só se deveria elaborar a candidatura a apresentar após prévia e cuidada definição de objectivos e de meios para os alcançar, coisa que nunca foi feita.
      Tal como foi desencadeado, só consigo ver um mérito no processo: permitiu trazer o problema a debate. Não sei se reparou: Resulta do texto anterior -Tabuleiros à UNESCO 3- que a candidatura de Nimes, liderada por um director de serviços da própria câmara, e não por um "especialista" exterior bem pago, já tem mais de 10 anos de trabalho, até agora sem conseguir a inscrição na UNESCO.
      Há não uma mas várias coisas que se podem, devem e têm de se fazer, mais tarde ou mais cedo, para impedir a decadência de Tomar. A primeira dessas acções é uma indispensável e urgente mudança de atitude para com os nossos conterrâneos todos. Enquanto se pensar que quem não pensa como nós, ou tem preferências diferentes das nossas, só pode ser um inimigo, um malandro da pior espécie, para não dizer uma besta ignorante, não vamos conseguir sair do atoleiro.

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  2. Não se trata de normalidade sonolenta. Nada a opor à candidatura e será bom que esse reconhecimento seja obtido. Alguns pensarão é que, ainda assim, isso não resolve minimamente nem inverte a decadência da cidade. Pode ajudar a retardar mas nada mais que isso. É uma aposta na estratégia de Tomar cidade cultural que tem vindo a ser trilhada há 35 anos com os resultados que estão à vista. Dito de outro modo, o sucesso da candidatura vai permitir pensar que em 2040 Tomar seja uma vila simpática e não uma aldeia despovoada.

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    1. Concordo consigo. Conforme já referi na resposta mais acima, na ausência de objectivos definidos e de meios para os alcançar, nem se percebe bem para que possa vir a servir a obtenção da inscrição na lista do Património imaterial da UNESCO. O Convento de Cristo é Património da Humanidade, ou Património Mundial há 35 anos e até agora as sucessivas câmaras nunca sequer julgaram útil indicar esse trunfo em placas toponímicas colocadas nas entradas da cidade. Como acontece em Alcobaça ou em Elvas, por exemplo...

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  3. Pois. Falta, como tem sido habito nas administrações da camara, saber "porquê".
    Porquê a candidatura? Para imprimir em cartazes, uma vez aprovada, se for aprovada?
    Mas a falta de resposta não é de agora....
    Para que serve a candidatura, e o seu eventual sucesso? Inscreve-se em que estratégia? Qual o, ou os, objetivos, como pergunta o A. Rebelo atrás?
    Porque, só por si, vale apenas para o curriculum, e pouco mais.
    é para ser integrada em algo mais vasto e ambicioso, ou termina nela própria?
    É o problema maior de Tomar. A Câmara saber para onde quer fazer rumar a cidade.
    Qual o designio ou os designios da Cidade? Para que seve a candidatura?
    É "jardim" ou "templaria"? É o quê?

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  4. BEM tenho de desabafar realmente onde estão as placas indicativas de tal Património para indicação a todos os turistas fazendo referência ao Convento de Cristo bem os críticos vão dizer ainda se está a trabalhar no projeto da maquete para as ditas placas quer dizer isso só em Tomar e ao fim de 35 anos ainda não houve alminha nos sucessivos mandatos para colocar a devida informação e sinalética bem a ver vamos com a nova praça renovada da Várzea Grande com os turistas a chegar se realmente já alguém pensou nesse tipo de mobiliário urbano pois com tanto investimento será uma vergonha isso não estar contemplado digo eu talvez já esteja e eu não saiba. Estou cá para ver!!!
    Como Simpático Leitor o meu obrigado e mais indico que nunca me conformeri com tais atitudes politicas que reprovo na minha terra por vêr no meu entender que não são a mais corretas mas quem manda também não deixa que se discutam alternativas como tal não há dialogo possível ora vivemos um tempo de impossíveis discussões que até seriam benéficas para a população mas não parece que ninguém se importa como tal aplica-se e muito bem o termo ``NORMALIDADE SONOLENTA´´ nem outo nome seria melhor para descrever a situação letárgica que nos leva a aceitar tudo de bom grado.

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  5. Segundo notícias fresquinhas da UNESCO e do ICOMOS, já há pelo menos duas candidaturas portuguesas para as previstas sessões de 2019. Trata-se dos festejos carnavalescos de Podence, no património imaterial, e do Palácio-Convento-Tapada de Mafra no património construído.
    Tanto num caso como no outro as hipóteses de sucesso parecem ser poucas, sobretudo no que diz respeito a Mafra.
    O país é pequeno e demasiado glutão. Tanto mais que o governo português, que devia "segurar os cavalos", nos termos das recomendações da UNESCO, não o faz por causa dos votos de Outubro próximo.

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  6. Caro António Rebelo (permita me a liberdade de o tratar assim)
    Discordo de si frequentemente, tal facto não me impede de reconhecer que neste assunto (candidatura dos tabuleiros) os seus textos têm sido exemplares, bem haja!

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