"Fake news" à moda nabantina

Opinião

Desde há muito que neste abençoado país as novidades deixaram de chegar de Paris, via Sud-Express, como no tempo do Eça. Agora vem quase tudo dos USA. Após os cowboys e as jeans, temos o senhor Trump e as fake news.

O leitor não sabe o que é? Pois anote lá que se trata, não de notícias falsas, conforme a respectiva tradução permite pensar. São antes, na interpretação americana, textos informativos que facultam, não simples mentiras mas verdades alternativas.
E a moda até já chegou a Tomar, uma comunidade tão atrasada noutras áreas. Quer ver? Cumprindo a sua missão o vereador Luís Ramos (PSD) interpelou a presidente da Câmara sobre aquela bronca mal cheirosa e horrível da Levada.
Com o seu ar condescendente, assim como quem pensa "que mal fiz eu a Deus para ter de aturar isto", a presidente respondeu-lhe enveredando por uns caminhos longe da verdade factual. Parece ter preferido a antes aludida verdade alternativa.
O jornalismo da Rádio Hertz, que assiste às reuniões da autarquia, publicou posteriormente uma peça, na qual figuram estas duas passagens: "O assunto é de tal forma complexo que só com uma remodelação das condutas da parte antiga da cidade é que os problemas seriam resolvidos, obras para as quais será necessário o recurso a muitos milhões de euros."
Para que não restem quaisquer dúvidas de que estamos perante a versão camarária do assunto, pode ler-se mais abaixo que a presidente esclareceu o vereador, "tendo ficado claro que o sistema em alta é competência da empresa "Águas de Lisboa e Vale do Tejo."
E assim temos três fake news à moda nabantina, que é como quem diz três mentiras, ou verdades alternativas, maiores que o Convento de Cristo:

1 - Não se trata de intervencionar todas as condutas da cidade antiga, como a notícia Hertz deixa perceber, mas apenas as de 6 das 25 artérias da citada área citadina. Mais precisamente Rua do Pé da Costa, Largo do Quental, Rua do Teatro, Rua Aurora Macedo, dois terços da Rua Joaquim Jacinto e dois terços da Rua Direita. Isto porque o Paiva, que foi um péssimo presidente, mas deixou obra feita, mesmo assim renovou durante os seus mandatos a rede de água e saneamento das restantes artérias da parte velha. A actual presidente já fez o quê nessa área e na cidade antiga, em cinco anos que já leva de mandato?

2 - Tratando-se de apenas uma pequena parte do tecido urbano, salta aos olhos que não custará "muitos milhões de euros". É só conversa fiada da actual presidente, que no caso do parque de estacionamento da Várzea grande também já alegou que não mandou fazer o respectivo projecto por recear que a verba disponível não chegasse para a obra.

3 - É bem capaz de ser verdade que as obras "em alta" devem ser feitas pela empresa Águas de Lisboa e Vale do Tejo. Infelizmente o problema pestilento da Levada tem origem nos colectores únicos existentes ainda em parte da Rua Joaquim Jacinto, Rua Aurora Macedo, parte da  Rua Direita, Rua do Teatro e Rua do Pé da Costa de Baixo, que estão ligados ao colector de efluentes domésticos da Rua dos Moinhos e daí vão para o emissário doméstico da Levada, que não foi dimensionado para tal carga, que engloba efluentes domésticos e água da chuva.
Está bom de ver que se trata de estruturas "em baixa" que estão na origem do problema. A não ser que a presidente tenha resolvido colocar-se na posição mais cómoda: os ramais domésticos são com os proprietários, os colectores de cada rua são com a tal empresa de Lisboa e Vale do Tejo, limitando-se a Câmara a cobrar as respectivas taxas nos recibos da água...
É sabido que a população tomarense, a julgar pelos sucessivos resultados eleitorais, não será das mais capacitadas do país em termos de cidadania. Mas convém não exagerar, como faz a senhora presidente que, com explicações destas, parece considerar que somos todos lorpas, menos ela.

                                                                         Templário Zarolho