terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Câmara diz que não tem competência para tratar do caso do sem-abrigo

António Silva, de 81 anos, passou mais uma noite nas arcadas da câmara de Tomar. É a quarta vez que tal acontece. Através de um esclarecimento enviado à comunicação social, a câmara argumenta que “naturalmente a autarquia não tem competência para retirar alguém da rua sem a sua vontade.”

Se é certo que o homem rejeita ajuda em termos de alojamento, não se compreende que a câmara, em articulação com outros serviços sociais e com o apoio de psicólogos, não resolva o problema.
Algo vai mal quando a câmara aceita com naturalidade que um idoso passe as noites ao relento no edifício dos paços do concelho. Vem-nos à memória o caso do homem que viveu nos sanitários públicos da capela de S. Gregório durante vários anos.
Também é sintomático que a crítica da câmara vá para quem denunciou o caso publicamente. Casos como os de António Silva não são aceitáveis e são verdades inconvenientes que, na ótica do município, devem ser escondidas.
Mas “Tomar na Rede” continuará a denunciar este e outros casos sempre que esteja em causa a dignidade de um ser humano, por mais que isso custe aos responsáveis políticos.
                                                                                             JG

Esclarecimento do município de Tomar

Acerca do caso de um homem que pernoitou nas arcadas dos Paços do Concelho, esclarece-se o seguinte:

O indivíduo em causa, com 81 anos de idade e residência oficial em Ferreira do Zêzere, quando foi encontrado em Tomar pela primeira vez, já vinha referenciado pela Linha de Emergência acionada pela PSP, por se encontrar na via pública, tendo sido colocado num Centro de Acolhimento em Alfeizeirão, Leiria, de onde saiu por iniciativa própria, recusando o encaminhamento para outros centros.
Terá saído da casa onde vivia maritalmente por desacordo com a companheira, sendo divergentes os depoimentos de ambos.
A Linha de Emergência foi de novo acionada através do Hospital após a sua admissão na urgência no dia 18 de janeiro.
O alojamento temporário em residência no concelho foi a resposta imediata encontrada pelas técnicas da Rede Local de Ação Social (RLIS), onde foi acompanhado pela PSP. Na presença dos intervenientes recusou o que lhe estava a ser proposto, tendo, segundo o registo da ocorrência, voltado a pé para a cidade.
Na semana seguinte registaram-se vários episódios de urgência, no Hospital de Tomar, com transferência para Abrantes, alcoolizado e, entre outros motivos, por hipotermia.
Foi contactado por familiar que se disponibiliza a acompanhá-lo mas não tem condições para o receber.
Na sexta-feira, dia 3, estava em quarto alugado, de onde saiu pelos problemas que levantou, embriagado, não havendo hipótese de voltar.
Recebeu entretanto apoio de vestuário da Cruz Vermelha, refeições da Misericórdia e foi pedido apoio alimentar à Cáritas e Junta de Freguesia Urbana, no âmbito da Comissão Social de Freguesia.
A RLIS enviou igualmente informação social para o Tribunal a pedir a intervenção do Ministério Público.
O Município tem desde a primeira hora feito aquilo que lhe compete, ou seja, alertar as autoridades e disponibilizar apoio de urgência, nomeadamente através dos Bombeiros com alojamento de emergência no quartel, como vai acontecendo regularmente em várias situações, mas que nesta sempre foi recusado pelo cidadão (assim como várias outras ajudas disponibilizadas por diferentes instituições e particulares), não tendo naturalmente a autarquia competência para retirar alguém da rua sem a sua vontade.
Os serviços sociais do Município continuarão, dentro das suas competências e no âmbito do trabalho com as demais instituições, a acompanhar este e todos os outros múltiplos casos que ocorrem pelo concelho.
O Município não pode deixar de lamentar a utilização e exposição abusiva e descontextualizada destas situações sociais, muito mais quando está em causa o direito à privacidade dos cidadãos e a competência das várias instituições públicas e privadas que compõem a rede social concelhia.

3 comentários:

  1. Se tivesse competencia para alguma coisa, era caso para nos admirar!

    ResponderEliminar
  2. Às 6:30 desta manhã sr. Antonio estava a pernoitar noutro espaço da CMT e não nas arcadas.
    Ao comunicar uma outra situação que também necessita de apoio social(sim infelizmente no nosso Concelho há mais do que as que são noticiadas), verifiquei que colaboradoras da CMT estavam a fazer o que lhes é pedido e possível, o bem estar do sr. António é um dever de todos nós e não somente da CMT.

    ResponderEliminar
  3. O Gaio as câmaras de Paris de Barcelona de Berlim de Lisboa ... todas tem gente de todas as idades nas ruas. Compete aos serviços sociais do estado, e porque não também exigir responsabilidades nos casos de maus tratos a crianças etc etc só quem não quer ver! Primeiro as leis depois as vontades individuais. O mundo não pode funcionar de caridade, mas sim de mecanismos!

    ResponderEliminar