quarta-feira, 11 de maio de 2016

A orquestra

Opinião

Dá gosto ver a atuação da orquestra daquele partido na Assembleia Municipal.
O libreto é sempre escolhido com requintado critério, fazendo sobressair os principais intérpretes.
Debaixo da batuta do seu conceituado maestro, a afinação é perfeita.
Por exemplo, o primeiro violino, que também toca na orquestra da Assembleia da República, apesar do seu ar desengonçado é dum virtuosismo desconcertante, não  deixando de ser um intérprete rigoroso da visão que o maestro tem da partitura. Dos restantes músicos não haverá muito a dizer. Cumprem o que lhes mandado pelo diretor. Levantam-se e sentam-se automaticamente ao sinal do seu condutor debitando com rigor as notas ensaiadas.
Mas a verdadeira diva, a extraordinária ave canora, a sensacional cantora lírica, sim aquela que torna verdadeiramente apoteótica a atuação desta orquestra é a soprano que a acompanha. A tempo, compassadamente, entra em cena com ar compenetrado, convicto. Faz as cortesias cumprimentando à esquerda e à direita. A fugaz troca de olhares com o maestro deixa perceber que está tudo devidamente orquestrado. Quando finalmente usa o seu instrumento vocal, até os pelos da nuca da assistência faz eriçar. Tão pouco interessa o que canta, assim como pouco importa se o faz em francês, italiano ou alemão. O que sabemos é que a sua voz altissonante faz reverberar as paredes do agora designado palácio de D. Manuel, transportando-nos algures até um longínquo Bayreuth...
É um espetáculo!
Mas enfim, como em tudo na vida, há quem não goste...
Há até quem, numa total insensibilidade à música faça comparações deselegantes, do tipo: "a projeção de voz desta intérprete está para o canto lírico como uma peixeira da Nazaré para uma modelo da Victoria Secret"... Exageros, é o que é! O povo precisa de cultura e esta é apropriadamente servida na nossa Assembleia Municipal.
Para prova disso basta repararmos nos nossos simpáticos presidentes de junta, os homens e até mesmo a senhora, habituados às rudezas da vida autárquica, mirrarem nos seus lugares perante esta herdeira de Maria Callas. Tão simples quanto isto...
Conclusão, as críticas recorrentemente feitas à qualidade e ao interesse da Assembleia Municipal são injustas. Se bem que é certo que ali moram alguns inúteis e/ou incapazes, também é verdade que é a morada duma orquestra de se lhe tirar o chapéu.
                                                                            José da Silva

2 comentários:

  1. Tudo aquilo é uma vergonha é o que é, um grupelho de gente que gosta de se ouvir e falar do que não sabe, basta ver o espetáculo pela hertz, que é do mais degradante. já ao artista da cassete pirata é tão canalizado em si mesmo que deve acreditar que isto são elogios. A pendatice faz escola nesta terra.

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  2. Grupelho de gente, são aqueles, poucos, que nunca nada fizeram em prol do bem comum e que continuadamente criticam aqueles que ainda vão fazendo alguma coisa. Vergonha é isto!

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