terça-feira, 28 de julho de 2015

As declarações embaraçosas do deputado Duarte Marques

Ernesto Jana

Residindo em Lisboa, sendo alfacinha de gema, gosto muito, mas mesmo muito de Tomar. Devido a este factor não racional, fico muito incomodado quando se diz mal deste concelho. Costumo ler ou tentar ler e consultar sites, rádios locais e imprensa regional. Numas destas consultas, passei, como é hábito, pela Rádio Hertz, onde pude ouvir 22m do que se passou numa das Jornadas de ReTomar 2017 (julgo serem assim o nome das jornadas). Ouvi declarações de três individualidades, a saber: João Tenreiro, Duarte Marques e Jorge Barreto Xavier.
Sendo certo que mantenho relações de cordialidade e de amizade com pessoas ligadas aos vários quadrantes políticos, o que aqui está em causa são afirmações de teor político.
O Dr. João Tenreiro fez considerandos políticos vários, que considero normais, visto ser vereador de Tomar e estar em combate político. Em suma, fez o que lhe competia e tudo o que faça em prol do concelho de Tomar será sempre pouco. Tal premissa estende-se, obviamente, a todos os sectores políticos nabantinos. É por isso, perfeitamente normal que, dentro do trabalho político, tenha conseguido trazer a Tomar o sr. Secretário de Estado da Cultura, mesmo que com a ajuda do sr. deputado Duarte Marques.
A intervenção do sr. Deputado deixou-me… nem sei como dizer, mas a modo que… triste. Ia aplicar o étimo embaraçado, mas deixo-lhe a ele, Dr. Duarte Marques, essa palavra.


Fiquei triste com o uso da palavra embaraço porque o Dr. Duarte Marques foi, como se lê nas entrelinhas, convidado a estar presente na qualidade de deputado. Assim, e nessa qualidade, deve mais respeito aos órgãos autárquicos eleitos livremente. Existem, de certeza outras palavras para se referir à autarca de Tomar “...um embaraço maior será a presidente da câmara actual...”. Se tem críticas a fazer, deve fazê-las da maneira mais adequada e não falar em público desta forma. A propósito, deverei chamar de embaraço a um programa de governo que enquanto governo, parece desviar-se do proposto?
O sr. Deputado refere que Tomar era sinónimo de cultura, que se mostrava e se “espalhava” pelos concelhos vizinhos, de Mação ao Sardoal, de Abrantes a Ferreira do Zêzere. Mas fala no passado, querendo com isso dizer que foi há muitos anos. Recordo-lhe que o actual governo autárquico socialista tomou posse em finais de 2013, mas, entre 1997 e 2013, o governo de Tomar pertenceu ao PSD. Está lembrado?
Mas já que tanto fala de património, onde estava o senhor deputado a defender o alambor (2011), que foi parcialmente destruído? Onde estava o sr. Deputado (na altura não era membro da Assembleia da República) quando pedi a preservação in situ de meia-dúzia de sepulturas (num total de 3400) em frente da Igreja de Santa Maria do Olival? Qual foi a sua posição sobre o chamado forum romano de Tomar que andou em bolandas durante 30 anos? Pois é…
Mas gostei de o ouvir dizer “...que Tomar é uma cidade muito bonita, que tem aquela marca distintiva com charme...”. Fica-lhe bem e é uma realidade. Cá entre nós, olhe que Mação é uma bela terra. E sei do que falo, pois também tenho raízes familiares nesse paraíso. Mas voltemos a Tomar.
Mas, sr. Deputado, “...se não fossem as pessoas que fazem cultura ou que organizam a Festa dos Tabuleiros e outras organizações semelhantes...”, Tomar seria de certeza diferente. Mas mais uma vez lhe relembro que essas pessoas também faziam a Festa dos Tabuleiros desde 1997 (autarquia PSD) e as outras organizações igualmente. Repare na Nabantina, no Canto Firme, no Fatias de Cá, no Rancho de Alviobeira ou no da Peralva. Tantas e tantas associações culturais. Fazem por gosto, por paixão, por emoção, não fazem só porque a câmara era do PSD e agora do PS. E, de certeza, tiveram e têm razões de queixa dos políticos.
Achei muito interessantes as afirmações da Charola. Ela, a Charola, como estava (a necessitar de obras), era um embaraço (lamentável nas comparações ao nível de embaraço com a autarca de Tomar) naquele estado. Tem razão. Mas quem o ouve fica a pensar que foi a acção deste governo que, num ímpeto de protecção do património, resolveu restaurá-la. E isso não corresponde à realidade, pois não?
Comecei a escrever em jornais em 1988. E na altura escrevi para chamar à atenção que a abóbada continha pinturas (algo que já tinha sido mencionado no início do séc. XX). Os primeiros andaimes foram montados na Charola em 1988 ou 1989. Alguém de relevo na área da cultura disse que 50.000 contos (250.000€) deveriam chegar para as obras. Quando escrevi mencionei que nem 1 milhão de contos (5 milhões de euros) chegavam para as intervenções que se propunham fazer na Charola e em vários locais do Convento. Eu tinha razão. As obras começaram com avanços e recuos. Muito tempo para as pessoas mas pouco para os técnicos do restauro que devem ir com pinças esperando sempre o inesperado. A Cimpor ofereceu mecenaticamente 1,5 milhões de euros para o restauro que chegou, julgo, em duas grandes fatias e envolta em alguma polémica no que concerne à segunda fase do dinheiro. Por tudo isto, o Presidente da República foi convidado para a inauguração de um restauro que, no tempo, atravessou vários governos da nação e não foi este que fez tudo como se parece depreender das palavras do sr. deputado Duarte Marques.
Tem razão o sr. Deputado quando diz que não basta ter a Charola arranjada. Tem que existir criatividade e estratégia para ligar este monumento aos outros patrimónios desde o mundial ao nacional e aos patrimónios locais. Sim, porque lá em baixo, na cidade também há património e este está rodeado pelas pessoas e que são o património mais belo de todos.

P.S. - Da intervenção do Sr. Secretário de Estado da Cultura falaremos já num próximo escrito.
                                                                                                           Ernesto Jana

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