sábado, 19 de julho de 2014

Padre Mário contra-ataca e critica defensores do património

A polémica transferência de um quadro da igreja de S. João Baptista para Santarém
Recorte do jornal Cidade de Tomar
O jornal Cidade de Tomar desta semana transcreve na última página a reação do padre Mário Duarte às críticas sobre a transferência de um quadro de Gregório Lopes da igreja de S. João Baptista para o museu da diocese de Santarém.
No final da missa das 10.30 horas de domingo o vigário falou em boatos, invenções e enganos da imprensa, numa alusão ao artigo do jornal O Templário sobre o assunto.
Referiu-se também a alguém sem o identificar que escreveu ao bispo sobre o caso do quadro e desvalorizou essa mensagem com o argumento de que é alguém que não frequenta a igreja.
Sabemos que pelo menos dois cidadãos tomarenses se dirigiram ao bispo questionando sobre os problemas que se estão a passar na igreja de S. João: obras na fachada e ‘desaparecimento’ do quadro.
Segundo o relato do Cidade de Tomar, o padre Mário Duarte lamentou que as pessoas “deem multa importância a quadros e não vivam o mais importante de todos que é aquele que nós não vemos que é Jesus sacramentado. É àquele ali que temos que nos dirigir e não ao Gregório Lopes.”
Na sua opinião “os defensores do património são aqueles que se mexem para executarem obras de manutenção do mesmo”.
“Estejam tranquilos que os vossos padres não são ladrões de património, não andam aqui a espoliar o património e se há alguém que gosta de zelar pelo património sou eu”, afirmou o padre no altar acrescentando que só aceita críticas construtivas.
Informou que o quadro esteve na (Universidade) Católica no Porto até há uma semana (dia 6) onde foi limpo o que custou à diocese 2.500 euros.
O quadro “A Última Ceia” de Gregório Lopes, é emprestado pela paróquia de Tomar ao futuro Museu da Diocese a inaugurar pelo presidente da República. Esse museu “é feito de obras de toda a diocese e como as comunidades são irmãs partilham os bens que têm”.
O padre Mário revelou que a Diocese pediu várias obras, mas que a paróquia de Tomar cedeu apenas uma e temporariamente. A diocese pretendia uma cedência por cinco anos mas o padre não aceitou e esse prazo foi reduzido para um ano.
Ainda segundo o relato do jornal, o vigário pediu à diocese que fosse feita uma reprodução em fotografia do quadro para preencher o espaço que ocupava o quadro com a indicação de que o original está no museu da diocese.

“A igreja não é uma democracia”

“Eu gostaria de informar que a igreja não é uma democracia, na igreja não é o povo que mais ordena, porque do povo que mais ordena já nós estamos a ficar cansados, porque de facto são sempre os mesmos a mandar e sempre os mesmos a sofrer”, afirmou o padre Mário Duarte durante a missa de domingo. E reforçou: “na igreja a democracia não existe, a igreja é feita de membros que sabem amar-se uns aos outros, amar a Deus e amar a Igreja e constroem laços de fraternidade e de partilha”.
Título de primeira página do 'Cidade de Tomar'
O quadro que saiu da igreja de Tomar para o museu de Diocese

3 comentários:

  1. A nível nacional, Tomar é um dos três locais de referência do roteiro de Gregório Lopes. Para além do "Milagre dos Peixes" que resta na charola e do "Milagre da Hóstia", ou do burro, recentemente restaurado e pertencente à igreja da Misericórdia, a igreja de São João é referida nos livros como possuindo um "notável recheio pictórico" (com direito a reproduções a cores). Na p.548 do clássico "Tesouros Artísticos de Portugal", pode ler-se, "Uma série de tábuas quinhentistas pende das paredes da nave: A Degolação de São João Baptista, Salomé apresentando a cabeça (...), A Última Ceia, A Missa de São Gregório, Abraão e Melquidesech e A Apanha do Maná. Estes grandes painéis, que constituíram, certamente o primitivo retábulo da igreja, foram executados no período de 1538-1539 pelo famoso pintor régio Gregório Lopes. (...) Porventura concluídos no melhor período do grande artista (...)."
    Pois bem, a "Última Ceia" já não pende das paredes da nave, e tudo indica que será substituída por um "vinyl" impresso, ao estilo "outdoor". Se quebrar a série de quatro painéis menores com a retirada de um deles já denuncia, por parte das autoridades eclesiásticas envolvidas, uma grosseira falta de sensibilidade, fazê-lo para ir compor o acervo de um museu que não existe e se quer fazer em Santarém, é um acto do maior desprezo pela identidade de um lugar como a igreja de São João e da carga simbólica que a mesma tem para os tomarenses. Os museus fazem-se com peças que precisam de ser musealizadas, expostas, valorizadas, e não à custa do que já tem o seu lugar por direito histórico, do que compõe a memória comunitária e dessa forma está registado nos compêndios.
    Não li o artigo do jornal, e já vi que é melhor não ler. As obras de arte, às vezes são deslocadas por algum tempo para projetos expositivos de prestígio, como o foram algumas das citadas para a exposição dos "Primitivos Portugueses" que esteve nas Janelas Verdes, mas para um museu não. É aqui o seu Museu. É melhor não adormecermos com isto. Bem basta termos que ir a Lisboa para ver o Martírio de São Sebastião, que pertence à charola do convento.

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  3. O Senhor Bispo de Santarém quer enriquecer, quanto mais, o museu diocesano para dele tirar maior proveito.
    Para isso, abordou os vários párocos da diocese para, num círculo clerical fechado, colaborarem com ele no esbulho das poucas peças de algum valor que existissem nas respectivas igrejas, ainda que pobres.
    O museu com “tesouros dedicados ao culto divino” abrange peças surripiadas, é este o termo adequado, de igrejas rurais, pois, delas foram levadas à socapa. Foi um apunhalar a população pelas costas. Esta de nada foi informada. Nada se lhe explicou. Só é chamada para concorrer nos peditórios.
    A quem recorrem os senhores clérigos para contribuir, financeiramente, para a construção, reparação, conservação e mais despesas nos templos e outras iniciativas?
    Há peças que são pedaços da alma da paróquia em que se encontravam. Há párocos de sensibilidade tão primária que as tinham arrumado para um canto, longe da vista dos paroquianos, privando-os de um conhecimento a que tinham direito. (Ou seria, antes, uma sonegação há muito premeditada, a aguardar a vil acção?).
    Imagens esculpidas, benzidas, portanto consagradas, por um vigário ou cura de há séculos, representativas de santos venerados pelos antepassados e que tiveram nessas freguesias razão de existência, viraram objectos de lucro num museu onde não serão mais que pedras apreciadas pelo talhe e pela idade. Há crentes por profissão a viver muito dos crentes por fé.
    Em Tomar, houve quem se agitasse e temesse a perda de uma pintura de Gregório Lopes. Padre Mário aquietou, dizendo: “Estejam tranquilos que os vossos padres não são ladrões de património” e garantiu o regresso do quadro.
    Conclusão: Como regressa, não há roubo. E no caso das peças que não mais voltarão?
    O Senhor Bispo também nada furtou. Tratou-se, sim, de uma inspiração do “divino” concedida à Santa Madre Igreja, transmitida a ele, seu humilde servo, que pediu colaboração aos seus subordinados… e, do sonho nasceu a obra.
    A personagem principal deste texto, faz-me lembrar o homem rico figurado na história apresentada pelo profeta Natan ao rei David, depois da sua velhaca acção

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