domingo, 7 de outubro de 2018

Uma ajuda teórica para os especialistas locais de turismo

Opinião

São cada vez mais frequentes as alusões pretensamente sábias à promoção de Tomar e ao concomitante desenvolvimento turístico da urbe, da parte de quem tem a obrigação mínima de respeitar o mandato que lhe foi confiado, não avançando enormidades e outras inverdades.

Procurando ajudar, segue-se a opinião de quem sabe do que fala: uma tradução do editorial do Le Monde de 5 de Outubro, com a esperança de que os nossos eleitos e outros concidadãos leiam, compreendam aquilo que lêem, e concluam como melhor entenderem.

O TURISMO À BEIRA DA "OVERDOSE"

"A França não é só campeã do Mundo de futebol. É também o primeiro destino turístico mundial. Foi o que repetiu, uma vez mais, no passado dia 3, o Secretário de Estado do Turismo, Jean- Baptiste Lemoyne, aquando da apresentação do balanço da última época estival, anunciando que será ultrapassada este ano a meta dos 90 milhões de turistas em França.
Esta boa nova triunfal deve contudo ser abordada com cautela. Antes de mais, devido à sua centralidade na Europa, um em cada cinco visitantes passa apenas uma noite no país, antes de chegar ao seu destino final, num outro território. Além disso, quando se analisam as despesas turísticas, a França aparece em terceiro lugar no Mundo, depois dos Estados Unidos e da Espanha.
A importância económica do turismo é no entanto essencial. Mesmo se o sector "apaga" 27% do défice comercial, a verdade é que o turismo foi durante anos negligenciado, porque o luxo, o agroalimentar e o automóvel eram considerados os pilares da economia gaulesa. É certo que a situação está a mudar, porém, as receitas turísticas continuam a representar apenas 2,3% do PIB, contra 5,2% em Espanha, segundo os dados do Eurostat. Estamos portanto perante uma boa margem de progressão.
Essa necessária corrida à atractividade não deve contudo levar a perder de vista o evidente aumento das consequências negativas do turismo de massa. Tal como a maior parte dos grandes destinos turísticos mundiais, a França confronta-se doravante com um fenómeno que os profissionais respectivos designam usando o neologismo "sobreturismo".
O incremento das viagens de baixo custo e o acesso de uma percentagem cada vez maior  da população mundial à classe média, bem como a chegada da Internet, geraram um crescimento exponencial do turismo, ultrapassando em 2017 1.300 milhões de visitantes, metade nos quais na Europa. O primeiro sector económico mundial já não é a Industria petroleira ou o automóvel, mas o turismo.
Que cada vez mais pessoas possam viajar durante as férias, é uma excelente notícia para o crescimento económico e para o emprego. O problema é que essas multidões de viajantes têm tendência a concentrar-se num reduzido número de destinos, provocando a saturação das infraestruturas de transportes e de acolhimento, criando assim importantes desequilíbrios a nível local.
Um pouco por todo o lado, os residentes manifestam o seu descontentamento perante uma invasão descontrolada, quando afinal o maná facultado pelos turistas tende a não compensar os estragos colaterais. Os preços da casas sobem a olhos vistos, o emprego é sobretudo sasonal e mal pago, o ambiente degrada-se, as aldeias transformam-se em museus, em parques de atracções ou em locais de bebedeira permanente.
Para além do objectivo louvável de atrair turistas, torna-se assim urgente reflectir sobre a canalização do fluxo de visitantes, que começam a inquietar os profissionais. Ninguém pensa  em contestar aos chineses ou aos indianos o direito de participarem activamente nesta democratização das viagens de lazer. Todavia, uma urgente regulamentação é do domínio do bom senso. Algumas cidades já começaram a melhor enquadrar as plataformas Internet de alojamento local. A promoção de novos destinos atractivos, bem como o alargamento da estação alta, graças à organização de eventos fora de época, podem também contribuir para que as férias de uns não se transformem num inferno para os outros."
Editorial, Le Monde, 05/10/2018
Introdução, tradução e adaptação de António Rebelo

6 comentários:

  1. Ainda nao se sente incomodo nenhum por causa dos Turistas. E ainda da para melhorar muito as condições quer para os residentes, quer para os visitantes.

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    1. Incómodo em Tomar não há porque o efeito economia-turismo centra-se no consumo em cafés e restaurantes, dura entre uma tarde e 2 dias. Já em Lisboa e Porto, com turismo residencial de média ou longa duração. há o grave problema de expulsão dos moradores locais se pobres ou da classe média. O problema do turismo como base económica é ser sazonal nalguns casos e, em todos, não poder permitir salários muito acima do ordenado mínimo por ser uma atividade de baixo valor acrescentado e pouco exigente em termos de formação.

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  2. Depende da rua onde se habita, porque há certos sectores da cidade antiga, vulgo núcleo histórico, que em certas alturas...

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  3. Atenção que a tradução do artigo do Le Monde está cheia de erros...não traduz quem quer mas quem sabe.

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    1. Não seja cobarde. Identifique-se e tenha a bondade de indicar os erros que justifiquem a sua frase grosseira "está cheia de erros". Não será antes você que está cheia ou cheio de raiva?
      Numa coisa poderá ter razão: não traduz quem quer, mas quem sabe. Eu aprendi na Universidade de Paris VIII. Você aprendeu onde? Quais são os seus pergaminhos na matéria? Afinal quem é você?

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  4. Afinal parece que a alegada má tradução foi só mais um provocação rasca. Instada a mostrar-se e explicar-se, a palermice resguardou-se e meteu a viola no saco.
    Pobre terra que tal exemplar alberga.

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