sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Mais uma fantasia, mais uma futura desilusão - 2

Opinião

A teimosia (outros dirão persistência) camarária perante o conjunto da Levada já vem de longe. Do tempo do reinado paivino. Logo em 2010, antes de começarem as obras, houve quem alertasse que os milhões a gastar ali corriam o risco de ser dinheiro deitado ao mar. Seguia-se uma enumeração dos problemas de difícil ultrapassagem: acessos, estacionamento, tomar e largar passageiros, circuitos e corredores de visita, plataformas de explicação, sistemas de alarme,  portas corta fogo, corredores de evacuação, acessos para menos válidos, etc. etc.

A  usual arrogância sobranceira dos senhores autarcas locais, pouco ou nada tolerantes perante as críticas, impediu-os de ver o óbvio. Preferiram alardear ignorância, disfarçada de  desdém por quem sabia. O resultado é que, nove anos mais tarde, com o PS no poder há 6 anos, em vez do PSD, continuamos na mesma estaca zero do processo de instalação.
A obra está concluída há alguns anos, todavia com vários erros de projeto, cuja solução implica avultadas despesas. O que obriga quem seja autarca executivo e sensato (coisa rara, como bem sabemos), a tentar responder a  perguntas fundamentais: Vale a pena? Dará a mecha para o sebo? Haverá meios para isso?
A senhora presidente parece garantir antecipadamente que sim. Porque vai ser um polo turístico de interesse nacional, disse ela. Lamentavelmente, os dados disponíveis indicam que é apenas mais uma confusão da senhora, entre o seu desejo e a realidade. Com efeito, no âmbito da indústria turística moderna, para além do omnipresente incoming SSS (sun, sand, sex = sol, areia, sexo), que entre nós é designado por "sol e praia" ou "turismo balnear", só atraem uma clientela apreciável de visitantes os locais espetaculares, religiosos ou curiosos.
A Levada, como está à vista, não é uma coisa, nem outra, nem outra. Quem tenha dúvidas fará o favor de consultar os vários guias turísticos editados no estrangeiro, disponíveis em espanhol, francês, inglês ou alemão. Nem uma linha dedicam àquele conjunto. O que se compreende.
Não é espetacular como o Convento de Cristo, por exemplo. Não é religioso como Fátima. Não é curioso como o Castelo de Almourol, ou a Sinagoga. Nestas condições, façam o que fizerem naquelas instalações -a começar pelas indispensáveis alterações técnicas, sem as quais a ASAE depressa mandará fechar- poderão quando muito atrair algum turismo escolar, daquele que não paga entradas. E "só compra garrafas de água e suja as casas de banho", nas palavras recentes da senhora presidente. É isso que se pretende?  Apenas mais uns serviços, para colocar amizades partidárias e outros compadres?
Onde estão as condições básicas para os respectivos autocarros de 55 passageiros (estacionamento, largar e tomar passageiros)? Onde estão os guias especializados? Onde está todo o pessoal técnico indispensável? Como tenciona a autarquia vir a conseguir verbas para cobrir as novas despesas? Por meio das taxas municipais agregadas ao custa da água? Parece duvidoso que a nova entidade intermunicipal, que substitui os SMAS, venha a aceitar a emissão de recibos diferenciados em termos de preços e taxas, consoante o concelho, e à vontade de cada um. Não só porque não seria justo, mas também e sobretudo porque tornaria o processo de faturação mais complexo e logo mais dispendioso.
Em conclusão, oxalá a intenção anunciada pela senhora presidente nunca passe disso mesmo. De uma intenção. Porque fica muito mais barato aos tomarenses. De resto, há dois detalhes que ainda falta explicar cabalmente. Um é o porquê da cooperação com o Politécnico, cuja experiência em museologia e turismo operacional, não é famosa entre os profissionais do ramo. O outro está ligado ao primeiro. Tratando-se de turismo e do Politécnico, porque é que o único especialista académico graduado em turismo daquela casa, o professor Mota Figueira, nem sequer esteve presente na mesa da cerimónia? Estará já a pôr-se a jeito, para depois do desastre anunciado, quando tudo aquilo estiver aberto, mas às moscas, (como já acontece com o Núcleo de Arte Contemporânea, ali junto aos Correios), poder dizer que nunca teve nada a ver com o assunto?

                                                    A ovelha ranhosa do costume
                             Que aproveita para se despedir dos leitores tomarenses. Foi um prazer estar por aqui, mas a erva nabantina está cada vez mais intragável.

11 comentários:

  1. Mais uma manifestação de ligeireza politica e de inconsciencia tecnica, desta presidenta que nos calhou.
    Empurra a cidade para a irrelevancia, para o declinio. Que, verdade se diga, já vinham de trás.
    Mas a inconsciencia com que anuncia planos e projetos, a desfaçatez com que anuncia futuro risonho, já são dolorosas para os tomarenses.
    Pelo menos, que pare de proferir falsidades, ou sonhos.
    Tenha respeito por nós.

    ResponderEliminar
  2. então adeus, rebelo!

    até breve!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Adeus quem?!
      Quem é esse rebelo?
      Até breve? Porquê? Para quê?

      Eliminar
  3. Um aspeto me parece correto na atuação do executivo camarário. Envolveu neste processo não só uma instituição académica local (o IPT) como parceiros da sociedade civil, como mandam as boas regras do exercício do poder político democrático local. A reabilitação desse edificado histórico, olhando o seu exterior, parece-me feliz. Está bonito. O aproveitamento de mais de 4 milhões dos fundos comunitários não é brincadeira nenhuma. O objetivo de aí criar um grande centro cultural também me parece certo. Os outros aspetos, como os de natureza económica, presumo que tenham sido bem estudados. Na próxima ida a Tomar vou passar por ali para regalar a vista. Já lá entrei uma vez para ver uma exposição do senhor Tó Carvalho e gostei à fartazana do espaço - e da exposição. E não precisei que me descarregassem à porta. Fui a pé. A cidade é pequena, mesmo a calhar para andar a pé. O senhor ovelha desenvolve, nos dois posts, um trabalho crítico assinalável e a merecer reflexão. No decorrer do tempo o projeto vai-se ajustando. Com este fogo cerrado sobre a presidente começo a ter grande admiração por ela. É dura de roer. Coca-se aqui.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Lê-se e tem-se alguma dificuldade em acreditar. A cidade é boa para andar a pé, sim senhor. E como devem fazer os que chegam nos autocarros, com 55 alunos e horários para cumprir? Os autocarros vão eatacionar onde? No largo do mercado, claro. Mas então às sextas não pode haver visitas, por causa do mercado, nem no primeiro domingo de cada mês, por causa das velharias.
      Uma pergunta, a fechar o assunto: Você já andou alguma vez com centenas de alunos a pé pelas ruas de uma cidade que não conhece, ou conhece mal?
      Vê-se que o senhor, ou a senhora, não deve viver em Tomar nem no concelho. Se fosse o caso, de certeza que não começava agora a ter grande admiração pela senhora. Dura de roer, diz no seu comentário. A mim parce-me mais obstinada. Assim a modos que como o Maduro da Venezuela, para quem também vai tudo bem naquela desgraçada terra, apesar dos mais de três milhões de exilados. Pior que Portugal no tempo do Salazar, ao que se ouve. Mas o homem agarra-se ao poder com unhas e dentes e tudo o que tem à mão. É duro de roer, dirá o senhor ou a senhora. Está no seu direito. Vivemos num país por enquanto relativamente livre em termos de opinião. Já esteve melhor, mas enfim.

      Eliminar
    2. Ao Caro Anónimo das 21H32
      Não. Nunca andei com centenas de alunos a pé pelas ruas de uma cidade.

      Eliminar
    3. É mais que duvidoso que a receita (bilheteira, aluguer esporádico) seja suficiente para cobrir a despesa (energia, salários, segurança, limpeza, manutenção). No futuro, para manter o Museu da Levada, certamente serão chamados a contribuir para a despesa os impostos dos cidadãos. Em nome da "cagança cultural local" e por causa da falta de visão dos decisores.

      Eliminar
    4. Mas eu tive o prazer de ser guiado enquanto aluno à 40 anos por Tomar por professores onde me foi contada a história de Tomar a fixação dos templários em Tomar a importância que tiveram os monumentos existentes,os territórios dados aos templários. A indústria que existia papeleira, fundição, moagem que o Conselho não tem nada a fazer referência a isso nem a homanegear esses trabalhadores que infelizmente já não existem. Mas nem todos conhecem a história de Tomar.

      Eliminar
    5. Nem trabalhadores, nem empresas. Ficaram umas anedotas que se convenceram que pôr uma cidade a viver do passado (turismo cultural) é só mudar os logotipos das cartas e dos sinais nas entradas da cidade. Esqueceram-se da ruína financeira e da desertificação de residentes.

      Eliminar
  4. Isso é tudo vigaristas como aquele careca do Montepio.

    ResponderEliminar
  5. Credo vão abrir o ninho de ratos agora quase 5 anos depois de terem concluído as obras pobres bichos estavam com instalações novas e sossegados mas pronto pode ser que mordam no executivo era merecido por tanta mentira.

    Estou para ver esse dito MUSEU no qual tenho esperança de ser a sério, será????

    ResponderEliminar