Digam adeus aos SMAS e preparem-se para a próxima pancada

Opinião

É o destino. Uma entidade fornecedora de água só podia ir por água abaixo.

O tema foi habilmente escamoteado e terá por isso passado algo despercebido fora do grupo "nós os eleitos". Composto por gente que se tem por importante, acima da camada popular, e que trabalha quase sempre em circuito fechado, tanto quanto possível, alardeiam também grande auto-suficiência.
Falo do anúncio do funeral dos SMAS-Tomar e da sua substituição por uma sociedade anónima intermunicipal de capitais públicos. Está tudo no Nº 04, páginas 3 e 4 da Ordem de trabalhos da reunião do executivo municipal tomarense de 04/02/2019, que pode ler aqui

Aí se fica a saber que a nova entidade terá como sócios fundadores os municípios de Barquinha, Ferreira do Zêzere, Mação, Ourém, Sardoal e Tomar. Quatro de maioria absoluta PSD e dois de maioria absoluta PS (Tomar e Barquinha).
Tomar entra com 600 mil euros, o que corresponde a 35,63% do capital da empresa. Ou, para quem prefira, por ser mais explícito, o que corresponde às despesas municipais com uma Festa dos Tabuleiros, mais metade de outra.
Além de Tomar, só há na futura empresa outro município de dimensão comparável. É Ourém, que tem mais população e por isso vai avançar com cerca de 700 mil euros. Vamos ter, por conseguinte, uma nova entidade intermunicipal largamente controlada por eleitos do PSD (Ourém, Ferreira, Sardoal e Mação), com tudo o que isso significa em termos de grandes opções, gestão corrente, contratação de pessoal,  etc.
Antes mesmo da constituição da dita empresa intermunicipal, há uma anomalia que salta à vista. Uma vez que nem o Sardoal nem Mação tem continuidade territorial com os restantes quatro concelhos associados, dos quais estão separados pelo de Abrantes, porque raio resolveram associar-se por estas bandas? Porque não com Abrantes, que seria o mais lógico?
Outra anomalia e bem maior é o caso de Tomar, A) - por causa da tropa dos SMAS (cerca de 110 funcionários, cuja maior parte terá de ser absorvida pela Câmara); B) - por causa das enormes perdas de rede, que representam mais de 30% da água comprada à EPAL; C) - por causa do contrato leonino e ao que parece irrevogável com a mesma EPAL; e finalmente, D) - por cauda da indispensável e urgente modernização da rede de água e saneamento, nomeadamente em parte da cidade antiga.
Não terá sido portanto por mero acaso, ou por simples embirração, que  Abrantes, Torres Novas e o Entroncamento, os outros concelhos importantes do Médio Tejo, ligados geograficamente entre si e com os da nova entidade, todos de maioria absoluta PS, preferiram outras empresas intermunicipais. É bem sabido, desde há muitos anos, que quem se mete com crianças, acaba sempre por sujar as mãos, mesmo sem querer. E não foi o autor destas linhas que já classificou a actual maioria autárquica tomarense como ATL.
De resto, ao contrário do que é habitual, desta vez a srª presidente até já preveniu em tempo útil: Vai haver aumento da água, mas a câmara vai absorver esse aumento. Tal como na generalidade  dos países árabes, na Venezuela ou em Cuba, os tomarenses vão ter água subsidiada, além das habituais tarifas para pobres.
Até quando? Logicamente só até ao final de 2021. Em Outubro desse ano há eleições autárquicas, e o orçamento municipal não pode aguentar tal tropelia durante muitos anos. Quem vier a seguir que se "desenmerde", como dizem os  emigrantes de Ourém, regressados de França.
Remate final -Tomarenses! Digam adeus aos SMAS (sem grandes saudades, bem sei), e preparem-se para a próxima pancada, já anunciada. Forte aumento  do preço da água + saneamento + resíduos sólidos.
É muito confortável não ligar nada à política local, mas depois tem sempre os seus custos, mesmo podendo parecer que não. A gestão municipal é uma actividade demasiado perigosa para ser deixada nas mãos dos eleitos que temos.

                                          Uma ovelha negra do rebanho nabantino