quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

A crise tomarense pode ter origem geográfica

Opinião

É verdade. Após muita matutação, a conclusão impõe-se. A crise tomarense pode afinal ter origem geográfica. Vejamos. Se você habita na cidade de aquém ou de além da ponte, quando vai à janela, para desanuviar e matutar um bocadinho, o que é que constata? Que vive numa cova, rodeada de colinas. Logo, não há horizontes vastos nem menos vastos. Não há horizonte, ponto. Não está na minha posição, a olhar o imenso oceano aqui da  janela.

Visão subjectiva, dirá você. Pois é. O que não quer dizer que seja falsa. Até porque há outros factores que reforçam a tese. Por exemplo na área política, desde do 25 de Abril já tivemos 11 presidentes de câmara em Tomar. Desses, só 2 se mostraram um pouco acima da mediocridade -Amândio Murta e António Paiva. Talvez simples acaso, mas nenhum deles nasceu ou foi educado em Tomar. Murta chegou cá já médico e Paiva como professor do politécnico. Tinham portanto outros horizontes, mais vastos porque não confinados por montes e colinas em toda a volta.
Mas porque raio escolher logo esses dois, que nem sequer foram eleitos em listas PS?
Apenas pelo que está à vista. Murta deixou a iluminação do estádio, a Polícia Judiciária, a Comissão regional de turismo, a delegação do INE, a ponte pedonal do mercado e o património mundial do Convento de Cristo. Paiva deixou a rede de esgotos e a requalificação de grande parte da cidade, bem como a ponte do Flecheiro, além de um infindável rol de asneiras, porque só não erra quem não faz.
Os outros nove presidentes, por sinal todos tomarenses, de nascimento e/ou de educação, (salvo uma ou outra excepção, como as bombas da gasolina da Estrada da Serra), deixaram o quê? Sobretudo más recordações. O que não surpreende. Quem não está habituado a olhar para horizontes vastos, tão pouco consegue "ver longe".
Enterrados na cova tomarense, os nabâncios têm ideias fixas, além de horizontes muito limitados, como a prática demonstra. Adoram obras de fachada, ornamentações, festas, adereços, sem cuidarem da eventual utilidade real a longo prazo, nem das despesas permanentes de manutenção e outras daí resultantes.
Gera-se assim uma curiosa situação. A autarquia precisa de cada vez mais dinheiro para fazer cada vez menos, Impelida por isso a esmifrar cada vez os seus cidadãos, por não poder fazer de outro modo, segundo os pontos de vista dos que a compõem, vai ao mesmo tempo ampliando as condições para a debandada da população. Porque ninguém gosta de ser explorado e mal servido.
Entretanto, os encurralados por força das circunstâncias, porque não podem desandar, vão-se tornando negativamente invejosos, o que se compreende e dá pelo nome de frustração.
Sim, porque há inveja positiva e inveja negativa. Em países e terras cuja população cultiva a inveja positiva, há tendência para facilitar a vida de cada um. Quando alguém consegue fazer ou comprar uma casa nova, por exemplo, a reacção geral é procurar arranjar meios legais para conseguir uma casa ainda melhor, sem prejudicar ninguém, para "fazer ver". Pelo contrário, em terras de inveja negativa, se um honrado cidadão aparece com um carrito novo, por exemplo, os outros em vez de arranjarem maneira de comprar outro ainda mais vistoso, resolvem acusar o desgraçado de ter roubado o carro, de ter desviado o dinheiro para o comprar ou, pior a ainda, furam-lhe os pneus ou deitam-lhe fogo.
Somos mesmo assim em Tomar. E a curto prazo só há uma coisa a fazer -denunciar tal estado de coisas, para propiciar a indispensável mudança. Porque ou mudamos ou desaparecemos como comunidade. E também não se vai perder grande coisa, se a tal mudança não acontecer quanto antes.

                                                               Zacarias Silvestre Malhaneles

16 comentários:

  1. Cá para mim, é da água da região.

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  2. A questão se impõe é: Caro Zacarias Silvestre Malhaneles será dos que tem "vastos horizontes", pois com tais horizontes decerto não é tomarense.

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    1. Infelizmente sou. Ou, noutros termos, ainda me considero tomarense. Porque nasci, cresci e trabalhei aquí. E gosto perdidamente da cidade. Da cidade.
      São coisas que marcam. Como dizia o poeta, não se nasce impunemente nas prais de Portugal. Começo porém a dar-me conta de que já não falo a mesma língua, já não partilho os mesmos valores, já não comungo dos mesmos objectivos. Creio portanto que começo a só ser tomarense de nascimento, agora a vegetar entre estranhos. Chega a ser trágico, mas por enquanto ainda não é desesperante.

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  3. Tomar tem um Platão - o prof. A. Rebelo , que muito aprecio. Parece haver mais um - o senhor Malhaneles. Serão a mesma pessoa?  Já tivemos um "Sócrates". Saudade!!! No seu radicalismo intransigente, sonham com uma cidade perfeita,  uma Kallipolis - a Cidade Bela. E Tomar há de ser essa cidade, de preferência cidade-estado, em que outras ao seu redor, a região em que está inserida, o governo central, não têm que ser chamados para participar  nessa aventura.  Malhaneles (ou Rebelo?) amam Tomar e perfilam-se como engenheiros sociais dessa utopia.  Mas há um problema sério, quiçá inultrapassável. Os munícipes não prestam,  é preciso criar e formar um grupo de sábios desde canininhos. Entretanto, pode recorrer-se a metecos, como o senhor Murta ou o senhor Paiva. E como vai ser isso numa cidade destroçada, sem infraestruturas desportivas, recreativas, educativas, saúde etc.?(1) E INVEJOSOS! 

    Não são poucos os nossos intelectuais que ao longo dos séculos nos apontaram qualidades ruins e sentimentos atrozes singulares - a INVEJA é uma delas -, todas exponenciadas, pelos vistos, em Tomar,  certamente por estar numa "cova". O que dá nisto: " ...a esperteza e a estupidez propriamente  lusitanas", "o riso obtido, explorando a esperteza estúpida dos outros, revela um traço típico do burgesso português", "para o português há sempre um burgesso mais burgesso do que ele", etc., etc, que se resume nestas duas expressões:  "este país é uma merda", "Portugal está entregue aos bichos". Quem diz Portugal diz, com muito mais propriedade..., Tomar, no entender do Platão (ou platões) da mais linda cidade de Portugal. Deixem-se disso! 
    PAREM COM O TIRO AO BONECO.
    (1) Tomar tem o privilégio de ter estas infraestruturas locais, reclamadas, por exemplo, em França e Alemanha, segundo uma investigação recente.





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  4. A falta de visão é uma realidade em Tomar. Já a questão das janelas e das colinas à volta da cidade e que tapam a vista de horizontes é um exercício de simbolismo interessante porque, sempre rodeada de colinas, esta cidade com séculos de história foi, quase sempre, uma referência nacional pela sua importância estratégica, pela economia e pelo comércio. A presença romana, as incursões espanholas, as movimentações de Nuno Álvares, a decisão sobre a aceitação da coroa espanhola, a industrialização de Pombal, a cobiça napoleónica e as lutas liberais são marcos da história de Portugal, indissociáveis da cidade de Tomar. É verdade que os últimos 40 anos têm sido de regressão à qual também não são imunes Paiva porque enxotou empresários e criou o mito da cidade de turismo cultural e Murta que devia ter feito uma opção diferente da de um catedrático das matemáticas, coimbrão e reformado, para "lançar" o politécnico. Se é verdade, e a realidade demonstra-o, que não há forças locais para inverter o declínio da cidade, então a solução é ir procurar investidores externos e que não sejam da hotelaria porque, dessa, estamos aviados. Mas até disso parece haver medo. Teme-se que alguém venha perturbar a paz podre que se nota no ar?

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    1. Perdoe-se-me a audácia de vir meter foice em seara alheia. Faço-o só para corrigir um pequeno detalhe, todavia da maior importância para melhor compreensão do comentário, sem dúvida bem escrito e melhor articulado, coisa bem rara por estas bandas.
      Avançando, Murta quando muito terá influenciado o outro, que fora deputado e do qual agora me abstenho de mencionar a graça, por ainda estar vivo e creio que de saúde. Na verdade, o coimbrão catedrático reformado e de ultra-direita foi um último recurso, à falta de melhor. Antes, vários outros haviam recusado. Com destaque para um muito conhecido catedrático filho de Tomar, Fraústo de seu nome, que quando convidado não hesitou em recusar.
      Quase sempre os tomarenses que são mesmo brilhantes, ou evoluem acima da mediania, conhecem bem os seus conterrâneos, pelo que uma das principais preocupações é manterem-se afastados da Nabância, quanto mais longe melhor. Antes e depois de Abril.
      É triste, bem sei, mas contra factos não há argumentos.

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    2. O Paiva foi um grande presidente. Até o Relvas dizia na altura que era dos melhores do país. A partir de dada fase espalhou-se ao comprido. Não por causa do turismo cultural, mas devido à evidente falta de oposição capaz e ao deslumbramento perante o poder.
      Apesar dos erros cometidos, caso se apresentasse em 2021, ganhava com larga maioria. Ele é que é bem capz de não ir nessa aventura, que a situação nabantina não está mesmo nada convidativa. E pelo andar da carruagem, em 2021 é até bem capaz de já nem valer uma missa, quanto mais agora um sacrifício de quatro anos.
      Vai uma aposta que ele não aceita?

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    3. Sim, teme-se que pessoas com iniciativa, dinamismo, exigência e visão do futuro venham tirar os lugares que a mediocridade conquistou com tanta "curvatura da espinha" e com tanta troca de favores.

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  5. A crise tomarense resulta das gestões autárquicas que tem cruzado a referida autarquia ao logo dos anos desde que eu me lembro de conhecer a cidade quando fui para o 5 ano e tenho 42, as cores partidárias mudaram mas a sina manteve-se, outrora a cidade mais cosmopolita l, e desenvolvida do distrito tem vindo a ficar para trás, basta comparar com a vizinha Torres Novas para ver a diferença parece que desde a uns anos meteu a 5a e acelerou a fundo e Tomar meteu a marcha-a-trás!

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  6. A crise em Tomar é de difícil extinção. Não é com os políticos de "hoje" que algum dia está "cidade" sairá do marasmo. E de nada serve os milhões que se irão em breve gastar em "ornamentações" diversas como na várzea grande ou mesmo a praceta raúl Lopes, onde daqui a uns anos o Município não terá dinheiro para a sua dispendiosa manutenção. Certamente acontecerá como nos dias de hoje acontece com a Biblioteca Municipal onde a evidente degradação nao faz corar de vergonha os responsáveis pelo espaço.

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  7. Bem tenho a dizer a todos os comentadores acho que faríamos uma excelente equipa de cidadãos para nos apresentarmos como alternativa de governação aos atuais partidos em Tomar claro que temos de ter coragem para pôr as mãos ao trabalho porque o que está por fazer precisa de muito trabalho e de organização mais ouvir os cidadãos.
    Ainda tenho esperança e coragem não me falta o que é +preciso e pôr a carruagem nos trilhos porque como se pode vêr está fora dos trilhos e o que ai vem não é melhor.
    Aguardo que nobres cidadãos tenham coragem de apostar nos seus valores tal como dizem e que eu a muito venho tomando consciência que é preciso uma grande mudança de mentalidades em Tomar.-

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    1. Lá isso é verdade. Mas não tenha ilusões. Um HOMEM tomarense, que deu milhares de livros e mais tarde o nome à biblioteca municipal, onde agora chove, costumava dizer que quando se juntam mais de dois tomarenses a conversar, o melhor é pôr-se a andar quanto antes. Devia ter as suas razões.

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  8. Força Paiva cá te esperamos!!!

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  9. Nao o paiva nao e de ca e pelo que sei nao aceitou muitas industrias de cá se instalarem por isso agora é que estamos assim e agora paiva de novo para termos mais lombas na cidade a 2000 contos cada uma e que agora ja as tapam com alcatrao e manutencao nada cada vez estao piores.

    Nao tem de haver melhor ou entao ele tem de me ouvir e bem a min pois estou danado com certas coisas que ele fez e que muito nos prejudicaram e tenho vários exemplos que o cidado comun nem sabe.

    Por isso ningem quer investir em Tomar e depois os iluminados pensam que isto e Veneza

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  10. Eu bem tento ficar por Tomar, para contribuir para a cidade e para a região, mas não dão oportunidades de emprego, para fixar as pessoas no concelho.

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