Poluição do Rio Nabão: Se não é só teatro, parece

Opinião

O Templário desta semana noticia, usando termos poéticos, mais um episódio de poluição do rio Nabão. Mais um. E tudo indica que muitos mais virão. Na verdade, a poluição do Nabão já se transformou numa espécie de má-sina, de algo maléfico que não há maneira de contrariar.
Bem sei que a senhora presidente já se pronunciou, uma vez mais, contra tais atentados, garantindo que a autarquia apresentou ou vai apresentar queixa - mais uma - às autoridades de tutela. Subentendido: não é nada com a Câmara.

Um bocadinho mais explícito, o PS local emitiu um comunicado, no qual protesta contra a poluição do rio, como não podia deixar de ser, esclarecendo que defende um desenvolvimento industrial com empresas não poluidoras. Aproveita o ensejo para também destacar a acção da actual maioria autárquica na área do saneamento. Um sector maltratado durante a gestão PSD, devido a opções erradas, segundo a formação liderada pelo deputado Hugo Costa.
Sucede que tais manifestações de protesto são vistas por quem segue de perto os problemas do concelho como simples gestos ocos, teatrais, só para tentar ludibriar a população. Vejamos.
Aquando de um anterior episódio de poluição, houve protestos, vieram entidades regionais e nacionais, recolheram-se amostras para análise, e até se anunciou mais tarde que haviam sido detectados salvo erro seis ou sete origens possíveis da poluição do rio. No seu usual tom monárquico, a senhora presidente nabantina declarou então que, conhecidos os citados focos poluidores, restava aguardar os resultados finais das análises, para se conhecer finalmente a natureza da poluição. Coliformes fecais animais? Coliformes fecais humanos? Outros contaminantes?
A senhora presidente prometeu os tais resultados finais para o fim de Abril deste ano. Decorridos 7 meses, onde foram publicados esses resultados? Onde se podem consultar?
Mais grave ainda - e bem mais grave - quando se reclamam esses resultados nos órgãos informativos ainda não controlados pela autarquia, os membros da actual maioria fazem de conta que não lèem, que não é nada com eles. No que são acompanhados por toda a oposição, que, salvo melhor informação, nunca reclamou, de viva voz e nos locais próprios, contra tão insólita situação. Porque será?
Na minha pobreza de espírito e só com o olho esquerdo, antevejo apenas duas hipóteses: A - Tanto o PS como o PSD sabem perfeitamente quem é, ou quem são os poluidores, mas resolveram protegê-los, por motivos que só eles conhecem. B - A principal origem da poluição, que aparece sobretudo na margem entre a Fonte do choupo e o Cu de cão, é o próprio sistema de saneamento da autarquia, que entre a Rua da Fábrica e Além da Ribeira...
No primeiro caso, os tomarenses vão ser confrontados com a poluição do seu rio durante muitos e bons anos. Sentido-se protegidos, basta que os poluidores continuem a agir como até agora, tendo umas atençõezinhas periódicas com os seus protectores.
No segundo caso, sendo a própria autarquia a principal causadora da poluição, está explicado o persistente silêncio sobre os resultados finais das análises. Afinal, se um dia destes até houve grande poluição na Levada, provocada por colectores únicos estilo idade média numa parte do Centro histórico, é muito provável que aconteça periodicamente o mesmo no rio Nabão. Também nesse caso com duas possibilidades. Ou os prevaricadores aproveitam as enxurradas para ir despejando as suas fossas; ou os colectores do sistema municipal de saneamento estão subdimensionados (ou rotos? ou ultrapassados?) e transbordam quando chove muito.
Os senhores eleitos podem continuar a fingir, como até agora. Não devem é melindrar-se com críticas como esta, motivada quase exclusivamente pela evidente e lamentável falta de informação.
É bem sabido que quem semeia ventos, colhe tempestades.

                                                                       Templário Zarolho