Foto de Carlos Piedade Silva |
Em Tomar, para não falar da ruinas dos Paços do Infante, nem da actual administração do Convento, que nove anos após o tornado ainda não mandou reparar os estragos causados no Coro alto manuelino, olhemos para os objectivos camarários. Qual é a grande empresa da actual maioria autárquica, onde não há estrangeirados, nem quem deles goste? Que metas procuram alcançar, além do vencimento ao fim do mês e da ambicionada reeleição?
No campo das obras, salvo raríssimas e honrosas excepções, preferem o ornamental, o supérfluo, em vez de acudirem ao essencial e urgente. Tratam, por exemplo, de embelezar a Várzea grande, onde não mora quase ninguém, em vez de procederem à indispensável e urgente modernização da rede de água e saneamento num sector do Centro histórico, a 50 metros dos Paços do concelho.
Na área económica e cultural, parece que (ainda?) não aprenderam nada com o desastre da Levada. Uma despesa de 6 milhões de euros, (dos quais 1,2 milhões pagos pela Câmara), inicialmente para a instalação e funcionamento de um "museu polinucleado" - fundição, electricidade e moagem. Vai-se a ver, não há fundos, nem recursos humanos, nem condições mínimas nas construções recuperadas, para que tal ideia megalómana possa avançar. Entretanto, procurando disfarçar o malogro, vão preenchendo com eventos avulsos disto e mais daquilo, nunca mais se tendo ouvido falar do antes tão apregoado museu múltiplo. Aprenderam?
Pois parece que não senhor! Os dois principais objectivos camarários para 2019, além das obras ornamentais, são a Festa dos tabuleiros, "para cumprir a tradição" e a inscrição da mesma manifestação folclórica na lista do património imaterial da UNESCO. A festa vai custar 400 mil euros aos contribuintes e a tal inscrição já começou a dar despesa. A Câmara contratou, mediante finanças e por ajuste directo, um "investigador" de fora (seja lá isso o que for), para elaborar o indispensável processo de candidatura. Em 1983, o processo de candidatura do Convento de Cristo foi feito graciosamente por um tomarense, que ainda está vivo e de saúde.
Mas dando de barato que os Tabuleiros 2019 sejam um êxito estrondoso e que a sua candidatura venha a ser aprovada pela UNESCO, quais são as previstas escorrências positivas para Tomar?
Mais emprego? Mais investidores? Mais população? Mais verbas? Mais turismo?
Em relação a este último aspecto, a actual maioria parece não se aperceber de duas vertentes, que convém por isso detalhar.
Ao contrário do que possa parecer numa abordagem superficial, não há qualquer comparação entre monumentos e paisagens "Património da Humanidade" da UNESCO, por um lado, e manifestações inscritas no "Património imaterial" da mesma entidade, por outro lado.
Para não alongar, digamos que muitos milhares de turistas vêm a Portugal e a Tomar para visitar os monumentos com selo da UNESCO. Inversamente, poucos ou nenhuns vêm ou virão para ouvir o fado (que não entendem), o cante alentejano (que não percebem), para comprar chocalhos, ou cerâmica preta de Bisalhães, tudo já inscrito na lista do património imaterial da UNESCO, mas que nem por isso passou a ter mais importância real em termos económicos ou turísticos.
Especificamente em relação aos Tabuleiros, há que ter em conta dois aspectos básicos. O primeiro é que uma manifestação folclórica que só tem lugar de quatro em quatro anos, por muito importante que seja, nunca conseguirá integrar o calendário turístico nacional e internacional. Receberá sempre e apenas os excursionistas ocasionais, de muito fraco poder de compra.
Em segundo lugar, admitindo que a Festa seja mesmo a grande atracção que os seus defensores apregoam, conseguindo por isso vir a integrar o tal calendário turístico mediante umas cunhas valentes, vem a pergunta básica -para quê? A cidade é pequena, o percurso do cortejo também. Assim sendo, além de certo limite, não é aconselhável atrair mais visitantes, porque simplesmente não cabem cá. Nem nas ruas, nem nos alojamentos hoteleiros, nem nos cafés, nem nos restaurantes, nem nos jardins. E muito menos nos sanitários que continua a não haver.
Em conclusão, resta apelar aos senhores autarcas da maioria, e aos seus colaboradores mais próximos: Procurem ser realistas. Deixem-se de sonhos infantis. Procurem atrair para Tomar investidores, eventos rentáveis, empresas ambiciosas, coisas que dêem lucro.
Para dar despesa já temos em excesso. Mesmo sem contar ainda com o Museu dos Tabuleiros e o Museu do Brinquedo, as vossas próximas metas, lá para 2020.
Deixem-se de fazer figura de mendigos engravatados. Ou de nobres falidos com afigurações.. A realidade é obstinada. Quanto mais procuramos ignorá-la, mais ela se impõe.
Se até na China comunista, desde Deng Xiao Ping, "ganhar dinheiro é glorioso", que pretendem os aprendizes tomarenses? Parecer mais maoistas que os chineses discípulos de Mao?
Só em Tomar!
Templário Zarolho
Muito bem, sendo de referir que o problema da LLevada pertence ao ex-presidente da Trofa,Paiva de seu nome.
ResponderEliminarQuanto ao resto, é realmente confrangedora a ausencia de objetivos e repetivos programas, ambiciosos e amplos, imprescindiveis para salvar a cidade e o concelho da decadencia que assim é certa.
Foi o pior presidente da história de Tomar só afundou até matar a cidade de empresas nunca trouxe nada de bom pra Tomar só interesses de alguns que vivem do nome psd....que sem a política são meros seres oportunistas
ResponderEliminarOlhe que não.
EliminarO Paiva cometeu muitos erros, incluindo alguns escusados. Mas se Tomar tem hoje alguns setores renovados, com redes novas de águas e esgotos, e o coletor do Ribeiro Salgado, a ele o deve.
Esta senhora com etiqueta PS que está há cinco anos na câmara já fez o quê nessa área? E nas outras?
Acha que uma cidade vive de coletores renovados e redes de água boas? Foi essa ilusão juntamente com uma economia baseada no turismo Kultural que conduziu ao decrépito da cidade. Também se podia referir a instalação de lombas rodoviárias, uma contribuição para a economia local. Tal não dispensa as muitas críticas que a gestão PS merece.
EliminarO que lhe posso garantir é que sem uma boa rede de águas e de esgotos, uma cidade não pode viver bem.Como de resto está à vista.
EliminarDada a sua evidente aversão pelo turismo, que aqui tem manifestado algumas vezes, se calhar seria melhor que avançasse alguma ou algumas alternativas. Vamos a isso?