terça-feira, 13 de março de 2018

Morreu o arquiteto Bernardino Ramalhete

Morreu no dia 10 de março, na Golegã, o arquiteto Bernardino Ramalhete, de 96 anos, que viveu vários anos em Tomar com a sua mulher.

Com uma vasta carreira dividida entre Portugal e Moçambique, Bernardino Ramalhete nasceu em São João da Foz do Douro, no Porto, a 24 de Outubro de 1921.
Na capital nortenha colaborou com Carlos Ramos, Fernando Távora e Almeida de Eça, entre outros.
Geograficamente a sua carreira divide-se por três regiões: a etapa “portuense”, que corresponde à formação e entrada na vida profissional e que é essencialmente vivida na cidade natal ao serviço da Câmara Municipal do Porto; o período da Beira (Moçambique), que arranca em 1957, quando é admitido por concurso público como arquiteto da autarquia local, seguido da atividade liberal; e a fase atual que arranca no pós 1974, com o regresso a Portugal. Em 1954 obtinha o diploma de arquiteto na Escola Superior de Belas Artes da cidade (ESBAP), com 18 valores. Apresenta uma estação emissora de rádio como tese final. O arquiteto mantém-se fiel aos pioneiros modernos, salientando Mies van der Rohe, Le Corbusier e Walter Gropius enquanto mentores.

A partida para Moçambique acontece em 1957, fixando-se na cidade da Beira onde fundou o Gabinete do Plano de Urbanização da Câmara Municipal da Beira e desenvolveu intensa atividade na qualidade de arquiteto da Administração local. Em 1961, criou aquele que é, até à data da revolução de Abril, "um dos maiores escritórios portugueses de arquitetura", o Gabinete de Arquitetura, Urbanismo e Decoração Ldª (GAUD), como refere Ana Vaz Milheiro na edição 240 do “Jornal Arquitetos.” A atividade do GAUD reflete-se nos cerca de mil projetos de diferentes escalas que desenvolvem até à data da independência moçambicana, desde remodelações de interiores até equipamentos de grande porte, como dependências bancárias, instituições prisionais ou tribunais.
Regressado a Portugal, trabalhou na Câmara Municipal de Lisboa, assumindo, em 1975, a direção das Operações SAAL Algarve, entre outros projetos. Premiado pelo Instituto Nacional de Habitação pelo projeto de uma urbanização social, e após passagem por outras autarquias (Cascais, Sesimbra, Montijo, Almada), fundou um Gabinete de Arquitetura no Montijo, com extensão em Tomar, cidade onde fixou residência.

Em 2005 escreve o manifesto “Isto é Arquitetura!” onde afirma: “Devemos fazer [...] obra refletindo os autênticos valores da […] contemporaneidade.”
Bernardino Ramalhete tinha também uma grande paixão pela fotografia, reconhecida em vários concursos.
No outono de 2011, por ocasião dos 90 anos de Bernardino Ramalhete, a publicação PapelParede, do então Núcleo do Médio Tejo da Ordem dos Arquitetos (hoje Delegação do Centro), publicou um número de homenagem ao arquiteto. Bernardino Ramalhete foi, desde a primeira hora, elemento de suporte e incentivo a este núcleo, que focava a maior da sua atividade na divulgação da Arquitetura, em toda a área de abrangência e procurando atingir quer os profissionais, quer o público em geral.
O corpo foi velado na Golegã, no dia 11, seguindo para Lisboa no dia 12, onde foi cremado.
A Delegação do Centro da Ordem dos Arquitetos manifestou o seu pesar pelo falecimento.


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