Era uma vez um homem de idade respeitável, cuja excessiva amargura do seu coração fazia com que a doçura morasse em outras paragens.
Observador atento de tudo o que se passava à sua volta, filtrava a realidade deixando passar só as tristezas, as agruras e as angústias... Parecia incapaz de ser feliz! Aliás, para este ancião, a felicidade parecia sinónimo de fraqueza. Enfim, era uma espécie de velho Ebenezer Scrooge do conto de natal de Charles Dickens.
Este velho solitário dedicava grande parte do seu tempo a escrever a sua opinião sobre o que o rodeava. Só que o tal filtro de tristeza levava-o, quase sempre, a dizer mal de tudo e de todos.
As pessoas, umas por compaixão, outras por masoquismo, aguentavam as críticas, insultos, invetivas, sem nada dizerem.
O velho homem achava-se cheio de razão. Tudo o que dizia era acertado. O facto de praticamente ninguém retorquir aos seus escritos deixavam-no confiante de que o mundo era como o descrevia.
Um belo dia, surgiu uma rapariguinha malcriada, daquelas sem tento na língua que começou a " entrar" com o velho homem... A fazer-lhe o que ela achava que ele fazia aos outros... Digamos que,... a abusar! E logo de seguida, aparece um rapaz. Bem disposto, gozão. Provavelmente um daqueles marçanos musculados que poderia participar nos programas da TVI... Um desbocado convencido que se achava no direito de "pôr o dedo na ferida"... Isto de criticar, pelos vistos, parecia não ter idades. O velho homem critica? Então, achavam eles, tinha que estar disposto a ouvir os seus juízos precipitados, respostas malcriadas, insinuações, em suma, críticas...
Chegados a este descalabro, que atitude terá tomado o nosso homem de idade respeitável?
Será que o velho homem amuou? Será que disparou palavrões para todo o lado? Terá feito ameaças aos miúdos?
Será que esmoreceu demonstrando ser fraco jogador nessa coisa da dialética?
Conclusão, se porventura a atitude do velho homem fosse alguma das atrás enunciadas, talvez então o mesmo não passasse dum daqueles vulgares críticos que não suporta críticas...
Evidentemente que na apreciação dele próprio, as suas críticas nunca foram insultos mas sim meras apreciações educadas das caraterísticas e atuações dos outros... E deste prisma como poderia aceitar que alguém com menos 50 anos pudesse questioná-los como fizeram aqueles jovens desqualificados? Para ele, definitivamente, este não seria um daqueles casos de aplicação da máxima: "Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti".
Enfim, para o conto terminar em bem, com um conteúdo pedagógico, moral, não nos esqueçamos que vivemos a Quaresma, avanço duas hipóteses para o seu epílogo:
Hipótese 1 - As críticas insultuosas dos dois jovens, qual percurso de memória imposto pelo "espírito das páscoas passadas", fazem o velho homem ter uma epifania, qual Ebenezer Scrooge, e a partir daí modera a verve e passa a criticar o que tem a criticar mas sem excessos de azedume;
Hipótese 2 - A rapariga e o rapaz, porque jovens irrefletidos e malcriados, rascas, calam-se para não mais incomodar o velho homem porque este não gosta de ser enxovalhado e aliás, a velhice merece respeito.
Aguardam-se as vossas amáveis escolhas nos comentários a esta crónica.
Votos duma Páscoa Feliz.
José da Silva
Porventura refere-se ao Profº Rebelo e ao seu Blog, o qual eu sou um dos muitos leitores, e ao contrário do que aqui se diz neste comentário, dou razão ao Profº Rebelo nas suas imensas chamadas de atenção, pois esta terrinha definha-se ano após ano, sem que as pessoas abram os olhos, indo atrás dos "seus" partidos, que manifestamente já deram muitas e irrefutáveis provas da sua incompetência na gestão do bem público....
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