quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O Nome da Rosa e o Convento de Cristo

Opinião
A propósito do recente falecimento de Umberto Eco, a diretora do nosso Convento, Andreia Galvão, escreveu um epitáfio compungido no seu facebook sobre o escritor e as suas passagens por Tomar e pelo monumento.
A leitura do que escreve pode enganar-nos por induzir a que pensemos que a diretora tem algum interesse pela obra do escritor.
Não. A obra não lhe interessa nada. Ficamos agora a saber que o homem, sim. Admira-o.
Isto é estranho porque contrariamente a todos nós, a admiração que temos pelo homem advém da sua obra.
A diretora até poderá julgar injusto este raciocínio mas, o que se poderá pensar de alguém que nada faz para ultrapassar as burocracias em que mergulhou a manutenção fora de cena da peça "O Nome da Rosa", encenada pelo grupo de teatro Fatias de Cá e baseada na obra daquele homem que Andreia Galvão admira, Umberto Eco.
Recorde-se que esta peça esteve em cena no Convento de Cristo ao longo duma década, sem burocracias do Santo Ofício. Constatamos agora que a Inquisição ainda encontra refúgio nalguns mosteiros centenários.
Queremos honrar o homem? Celebremos a sua obra!
Umberto Eco ao Convento já!
Com sua licença, senhora diretora.
                                                   José da Silva

7 comentários:

  1. BRINCAR ÀS ESCONDIDAS COM SOPA A SEGUIR

    Em Portugal pessoaliza-se tudo. Quando se diz bem de uma coisa, é do autor que se trata. Quando uma pessoa faz borrada, uma vez que seja, tudo passa estar mal. Isso faz com que não se possa dizer mal, de um aspecto que seja d uma determinada coisa, que é o autor, pessoa que nós podemos considerar, que passa a ficar em causa. Is to é um problema porque impede a livre crítica ao mesmo tempo que possibilita que certas mediocridades abusem da consideração dos outros para não verem questionada a obra que fazem. Alhos são alhos, bugalhos são bugalhos.
    O Humberto Eco foi um homem extraordinário. O Nome da Rosa é o romance histórico por excelência. Ele tem tudo. Tem filosofia, tem metodologia das ciências sociais e históricas, tem história mesmo. É tão completo que até possibilita que dele se extraiam filmes a dar para o “policial” e peças de teatro. É que o livro tem ritmo, tem cadência certa de diálogos, passos e espaços.
    Parasitando-se no gigantismo da obra, muitos “intelectuais” procuram nela o sucesso que de outra maneira não sabem construir.
    O “fatias de cá” é disso exemplo. Não lhes conheço uma peça de teatro de jeito. São especialistas em supostos “efeitos especiais”. Acendem fogueiras no Castelo de Almourol, passam com cavalos e dão sopa (caldo verde). Não se percebe o que é que aquilo possa ter a ver com o casamento de um Viriato. Sobretudo não se percebe (porque não está lá) que linguagem estética e teatral é que performam e que sentido artístico aquelas manobras possam ter.
    Não deixam de ter sucesso, aqui onde não há crítica nem termo de comparação. E ao fim e ao cabo as pessoas precisam de ir a qualquer lado, ver qualquer coisa “de diferente”. Depois, naturalmente, há aquela coisa de aquilo ser o “teatro” que se faz por “cá”. E nós, de cá, não dizemos mal do que por cá se faz.
    Mas eu digo. Aquilo é fracote. Ou pode até ser muito bom, lá o que seja. Mas não é teatro!
    O “Nome da Rosa” foi a mesma coisa. Brinca-se com o público. Envolve-se-o naquelas manobras, faz-se dele participante, tudo coisas muito giras, diferentes e avançadas e subtrai-se assim a capacidade crítica “das pessoas”. Ao fim e ao cabo foram coniventes.
    Não sei exactamente por que é a senhora directora lá do convento proibiu as manobras pelos corredores e arcadas. Admito que ela possa ter razão- E essa minha suspeita decorre de imediato da acusação fácil que vejo fazer de “burocracia”. É aquela acusação politicamente correcta de que normalmente não está sequer para fundamentar o seu raciocínio. Não terá sido, com certeza, em resultado de uma avaliação crítica da peça teatral em causa.
    Terá sido por acaso, portanto. Mas acertou. O Umberto Eco e o Nome da Rosa são muito mais e, seguramente são diferente do que o Fatias de Cá consegue fazer e dar a entender.

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    1. Quem pensa assim não é gágá. Tem opiniões firmes, convicções inabalaveis, certezas firmes. Olé!

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  2. Felizmente, vivemos num país livre onde todos podemos expressar a nossa opinião e gosto pessoal.
    Uma década de apresentação de uma peça, quase sempre esgotada, trinta e sete anos de existência de uma companhia de teatro e mais seis dezenas de peças levadas a cena, efetivamente traduzem um péssimo trabalho. Felizmente, há muitas mais companhias de teatro no país, tantas que em breve farão cinco noites seguidas de apresentações na Mostra de Teatro Concelhia, em Tomar, e todos teremos oportunidade de ir dizer mal ou bem, do teatro que se faz por cá.

    Assim possamos continuar a viver num país de liberdade, onde haja espaço para a diversidade de opiniões, gostos pessoais. Assim possamos continuar a assistir ao Teatro, juntos.

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  3. Querem liquidar os Fatias.
    Parece que incomodam muita gente a começar pela governança do convento que por sinal esta a cair aos bocados.

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  4. Ninguem quer acabar com nada. São as mágoas de grandeza do pessoal de Tomar. Vejam bem, as pessoas vão ao teatro, divertem-se.... Está mal! Porque perdem o espírito crítico e não abrangem a falta daquela intelectualidade!!! Bem melhor fariam se dessem seca e não tivessem público nas peças!!!

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  5. Hoje à tarde enviei um complemento ao meu comentário (é o primeiro) e que responde também à defesazinha que foi esboçada invocando as multidões que acorrem a ver o Fatias e os anos que aquilo já leva. Fiz uma comparação com o Tony Carreira para demonstrar que a popularidade não é qualidade. E demonstrei, no mesmo passo, que o Tony Carreira é mais autêntico. É que ele é pimba, sabe que é pimba e não engana ninguém. O Fatias, mais os seguidores e apoiantes cá do burgo, querem-nos tentar convencer que aquelas manobras com sopa são teatro de qualidade. Podem ser de qualidade, podem ter muita gente e por muito tempo. Só não são é teatro.
    Acontece que, em vez do meu texto apareceu aquele a dizer que querem é acabar com o fatias de Cá.
    Já não é a primeira vez que textos meus são censurados. Mas quando faço de seguida a menção a isso, aparece a menção mas não o texto inicial.
    Não faço questão que os meus textos sejam aqui publicados.
    Também não abdico do meu anonimato.
    Os senhores não percebem a pequenez da vossa gestão da verdade, pois não?

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    1. Caro Anónimo, garanto-lhe que os membros do Fatias de Cá vivem bem com essas afirmação de que aquilo não é teatro. E o seu público também. Devo dizer que também digo isso imensas vezes, quando alguém me pede opinião sobre muitas peças que vejo das cornucópias, bandos, teatros abertos e artistas unidos cá do (outro) burgo, que são meros exercícios de linguagem dramática, ao invés de uma narrativa posta em acção, com convenções de tempo e de espaço. E, no final do dia, nada disso vale seja o que for. O que vale é fazer-se o que se gosta, como se gosta e ficarmos todos um bocadinho mais ricos (interiormente, que o teatro é caro e ninguém enriquece) e críticos. Que as actividades culturais, se lhes quiser chamar assim, devem servir é para isso, não para a habitual masturbação intelectual sem conteúdo objectivo alcançável. Saudações teatrais (ou culturais, como preferir!).

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