quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Política: Deixar Tomar atrás e para trás

Opinião de Ricardo Alves

Polémicas políticas em Tomar não são novidade mas o ridículo apoderou-se da autarquia. O à vontade com que decisões meramente políticas são tomadas, a falta de cuidado e resguardo, estão a deixar Anabela Freitas à deriva. 1% é 1%
Em tempos idos a expressão “Deixar Tomar Atrás” era um portuguesismo tão tradicional na região como os piropos sexistas que agora são criminalizados. Qualquer pessoa que pela região passasse, fosse para norte, sul, este ou oeste, passava pela cidade do Nabão e, efectivamente, deixava a cidade atrás. É claro que a expressão corriqueira e sem gosto tinha uso após umas minis ou uns copos de vinho e era dita entre homens másculos que, no entanto, se revelavam após o álcool lhes subir à cabeça. E o que tem isto a ver com o que se passa na Câmara Municipal de Tomar actualmente? Bom, os recentes acontecimentos deixam Tomar atrás: nas suas prioridades, na sua importância estratégica, na redução da cidade a um mero circo de incríveis histórias que em pleno 2016 deviam dar lugar a manifestações de repúdio dos cidadãos. O que até tem acontecido, mas já poucos acreditam na justiça e na fiabilidade da política.


Ora, vamos por partes. Anabela Freitas (PS) é eleita presidente da autarquia em 2013. Uma vitória algo surpreendente com 27,55% dos votos contra o candidato do PSD (26,14%) dadas as projecções da altura. Mas até aí Tomar faz notar a sua coerência. Carlos Carrão, que precedeu à agora líder socialista, foi o segundo “suplente” utilizado dos laranjas substituindo Fernando Corvêlo de Sousa, que em 2012 suspendeu o seu mandato. Dívidas e outras polémicas, marcaram a curta passagem de Carrão, cerca de ano e meio, pela liderança da autarquia. Mas no “jogo” dos social democratas a primeira substituição foi de Fernando Corvêlo de Sousa por António Paiva, este último presidente da autarquia até 2008, altura em que saiu para ocupar cargo na CCDR – Centro.
A cidade que já foi “capital” do Médio Tejo (apesar de ser nela que está actualmente instalada a sede da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo) voltou a sentir as agruras da política com Anabela Freitas. Ora vejamos: após a vitória tangencial nas eleições de Setembro de 2013, Anabela Freitas, do alto da segurança que pouco mais de 1% que as eleições lhe conferiam, decidiu apontar Luís Ferreira como seu chefe de gabinete. O que terá de anormal esta situação? Nada, não fosse Luís Ferreira o seu companheiro afectivo. Se o objectivo era agitar as águas do Nabão, a socialista conseguiu-o.
A oposição considerou a nomeação uma afronta e desde então não descansou. Ataques foram feitos à personalidade, ao profissionalismo e ao pudor (falta dele) do casal presidencial. Se é um facto que situações destas são comuns neste nosso país de políticos de carreira, também é um facto que é por isso que estamos onde estamos, e não é geograficamente. E Tomar talvez devesse questionar-se sobre o porquê da sua gradual perda de importância a nível regional e até nacional, salvando-se o Turismo e a vida estudantil (esta última com algum exagero).
Se não bastasse, o início do ano de 2016 tem sido tremendo em vendavais de mudanças naquela autarquia. Luís Ferreira, no que muitos julgaram ser um assomo de lucidez, renunciou ao cargo de chefe de gabinete. Quiçá cansado de polémicas, algumas por si criadas no sempre venerável Facebook, em que tantos e tantas regurgitam opiniões profundas, o companheiro de Freitas e seu braço direito político saiu pelo seu próprio pé. Há quem diga que Luís Ferreira tenha chegado a um ponto de não retorno e que se tornou um incómodo demasiado grande para a sua presidente e companheira. A verdade é que saiu e tornou público, esta segunda-feira, o seu pedido de demissão. A partir de 1 de Janeiro já não é chefe de gabinete e é substituído pelo seu “amigo” Virgílio Saraiva de Matos. Mas não se vai embora e deixar Tomar atrás. Fica como deputado municipal e promete “uma mão forte para ajudar a partir a espinha à direita”… Bonito, diga-se.
Mas o Facebook tem destas coisas, às vezes é traiçoeiro (quase sempre). Na cronologia do ex-chefe de gabinete surge a mudança de estado profissional. Luís Ferreira é desde dia 1 de Janeiro, lê-se na sua página, técnico de informática da autarquia. O vereador da CDU, Bruno Graça, revelou na reunião de câmara de 4 de Janeiro que o ex-chefe de gabinete da presidente da Câmara de Tomar, Luís Ferreira, foi admitido para o quadro do município como técnico de informática.
Rei deposto príncipe posto. “Não assinei despacho de nenhum concurso. Ainda estão a decorrer os processos de audiência das reclamações”, adiantou no dia 4 de Janeiro a presidente da autarquia, segundo avança o jornal Cidade de Tomar. Luís Ferreira, antes de ser nomeado chefe de gabinete era técnico de informática na Câmara de Alpiarça. Se o concurso ainda não está finalizado como pode Luís Ferreira, avança a Rádio Hertz, ter anunciado na sua página de facebook que já é técnico da camara desde 1 de Janeiro? Certamente terá informações privilegiadas.
Mas Tomar ainda teve mais para contar no início desta semana. Rui Serrano, que se “transferiu” de Abrantes, onde era vice-presidente da Câmara Municipal, deixando boa imagem na cidade, para concorrer como número dois de Anabela Freitas, entregou todos os pelouros que lhe estavam atribuídos, mantendo-se no executivo tomarense em regime de não permanência até ao final do mandato. Anabela Freitas nomeou então Hugo Cristóvão como o seu novo vice-presidente.
Entretanto a CDU, companheira de coligação do PS, e certamente cansada de tanta confusão, ameaça cada vez mais alto retirar a confiança e apoio à presidente. E tudo isto, com maior ou menor polémica, vai deixando Tomar para trás com os cidadãos do concelho, incrédulos mas estranhamente resignados a deixar Tomar atrás. Miguel Relvas, ilustre político tomarense, ainda não reagiu a estas polémicas, certamente entretido com as próprias.
Ricardo Alves
In Jornal Novo Almourol 

3 comentários:

  1. faltam dados a este artigo, como por exemplo a demissão do vice presidente por SMS na manhã da escaldante reunião !

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  2. Com este nível de coisas só há uma solução: Eleições intercalares!

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  3. Politica pacóvia no seu pi(melh)or!

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