segunda-feira, 15 de junho de 2015

Governo quer juntar Centro Hospitalar do Médio Tejo e hospital de Santarém.

A intenção do Ministério da Saúde de criar um Centro Hospitalar do Ribatejo através da junção dos três hospitais do Centro Hospitalar do Médio Tejo (Tomar, Torres Novas e Abrantes) com o hospital de Santarém está a agitar autarcas e população do distrito. Sucedem-se as reuniões e os comunicados sobre o assunto que está a gerar forte apreensão por parte dos autarcas.
Hoje reuniram em Tomar os autarcas do Médio Tejo e a câmara de Tomar convocou uma reunião extraordinária para quinta feira às 11.30 horas.
O hospital de Santarém abrange cerca de 200 mil utentes de oito concelhos do distrito de Santarém e o CHMT, que integra as unidades de Torres Novas, Tomar e Abrantes, perto de 250 mil de 11 concelhos.
A agência Lusa lançou uma notícia sobre esta intenção polémica do governo:

Autarcas apreensivos com criação de Grupo Hospitalar do Ribatejo
"Os autarcas do Médio Tejo manifestaram hoje apreensão pela intenção do Governo de constituir o Grupo Hospitalar do Ribatejo, através da junção dos três hospitais do Centro Hospitalar do Médio Tejo com o hospital de Santarém.

A Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo (CIMT) reuniu hoje o seu Conselho Intermunicipal extraordinariamente para analisar a intenção do Governo de constituir o Grupo Hospitalar do Ribatejo, transmitida na sexta-feira em audiência solicitada pela tutela.
PUB
Segundo afirmou à Lusa o secretário executivo da CIMT, os autarcas "estão apreensivos relativamente ao modo como o processo está a ser conduzido, bem como às consequências para as populações dos territórios abrangidos".
Miguel Pombeiro disse ainda que a Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo vai "solicitar formalmente o acesso aos estudos" contratados pela Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, e que estão na base da proposta apresentada, para conhecer as implicações reais para as populações envolvidas.
"Uma mudança com o alcance e implicações da criação do Grupo Hospitalar do Ribatejo não deve ser feita à pressa e sob a pressão da proximidade das eleições legislativas", defendeu, tendo afirmado ainda que os autarcas "temem pelas implicações clínicas" que esta mudança acarretará.
"A dispersão ainda maior das especialidades só fragiliza ainda mais o Serviço Nacional de Saúde no nosso território. A criação do Grupo Hospitalar do Ribatejo afasta potencialmente o centro de decisão na área da saúde relativamente ao nosso território, repetindo o efeito que a reforma da justiça implicou para o Médio Tejo, afastando as populações de um serviço público essencial", vincou.
Em declarações à agência Lusa, o secretário de Estado Adjunto da Saúde Fernando Leal da Costa disse que a criação de um Grupo Hospitalar no distrito de Santarém, envolvendo os hospitais de Abrantes, Tomar, Torres Novas e Santarém, "não desvirtua a existência dos hospitais e dos centros hospitalares, como eles são".
A "mais-valia", destacou, "é a criação de sinergias e o aumento do valor de escala para a aquisição de equipamentos e de medicamentos, e a partilha de algum pessoal, entre hospitais".
O governante disse ainda à Lusa estar "convicto da bondade do projeto", tendo afirmado que o Grupo Hospitalar, "só será constituído se for benéfico para todas as partes".
"É natural a desconfiança de alguns autarcas mas compete-nos demonstrar, em conjunto com os conselhos de administração dos hospitais envolvidos, que há uma mais-valia para as populações e que o projeto só tem significado se as autarquias estiverem dispostas a aceitar esta solução como boa", frisou.
Contactado pela Lusa, o porta-voz da Comissão de Utentes da Saúde do Médio Tejo, Manuel Soares, disse que a associação está "perentoriamente contra" a intenção do Governo de criar um Grupo Hospitalar no distrito de Santarém.
"Esta grande ideia tem uma agenda política escondida, que é a da centralização e redução de serviços nas unidades hospitalares envolvidas, agravando as já de si difíceis condições de acesso aos cuidados públicos de saúde", afirmou."



Comunicado da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo

"A CIM do Médio Tejo reuniu o seu Conselho Intermunicipal extraordinariamente hoje, dia 15 de junho, para analisar a intenção do Governo de constituir o grupo hospitalar do Ribatejo.
A presente intenção foi transmitida em audiência solicitada pelo Secretário de Estado da Saúde, Manuel Ferreira Teixeira, que propôs a junção do Centro Hospitalar do Médio Tejo com o hospital de Santarém através da criação do Grupo Hospitalar do Ribatejo.
A CIM do Médio Tejo manifesta a sua apreensão relativamente ao modo como o processo está a ser conduzido e às pretensões da tutela, bem como às consequências para as populações dos territórios abrangidos.
Em primeiro lugar, a CIM do Médio Tejo solicita formalmente o acesso aos estudos contratados pela Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo e que estão na base da proposta apresentada, para que se possam conhecer as implicações reais para as populações envolvidas.
Considera-se que uma mudança com o alcance e implicações consequentes da criação do Grupo Hospitalar do Ribatejo pode trazer, não deve ser feito à pressa e sob a pressão da proximidade das eleições legislativas.
Em segundo lugar, teme-se pelas implicações clínicas que esta mudança acarretará.
A dispersão ainda maior das especialidades só fragiliza ainda mais o serviço nacional de saúde no nosso território. A criação do Grupo Hospitalar do Ribatejo afasta potencialmente o centro de decisão na área da saúde relativamente ao nosso território, repetindo o efeito que a reforma da justiça implicou para o Médio Tejo, afastando as populações de um serviço público essencial.
Por outro lado, julgamos que a presente proposta em nada contribuirá para a proximidade com os cuidados de saúde primários. Pelo contrário, parece-nos que agravará a falta de articulação que hoje já se verifica. A CIM do Médio Tejo reafirma a necessidade de uma forte relação de proximidade com os serviços saúde, de todo incompatível com grandes distâncias a especialidades médicas básicas. As instituições hospitalares servem as populações e devem ser pensadas em função destas, em especial num distrito como o de Santarém que é um dos distritos mais extensos e que maiores distâncias podem implicar para os utentes e os profissionais."

Comunicado da Câmara de Tomar 

"A presidente da Câmara Municipal de Tomar está preocupada com a intenção do Governo em integrar os três hospitais do Médio Tejo num novo Grupo Hospitalar do Ribatejo, incluindo a unidade de Santarém, proposta que lhe foi apresentada pelo secretário de Estado da Saúde, numa reunião convocada de urgência para a passada sexta-feira, e na qual participaram igualmente os presidentes das Câmaras de Abrantes e Torres Novas.
Perante esta situação, a autarca vai convocar uma reunião de Câmara extraordinária para quinta-feira às 9h30, de forma a que a questão seja debatida por todo o executivo e se possa delinear qual a melhor forma de defender os interesses da população do concelho.
Recorde-se que a portaria 82/2014 já previa a possibilidade da criação de um Grupo Hospitalar do Ribatejo desta dimensão mas, em reunião do mesmo secretário de Estado da Saúde com todos os presidentes de Câmara do Médio Tejo, em abril do ano passado, tinha-lhes sido garantido que essa medida não iria ser aplicada.
Foi assim com surpresa que foram confrontados nesta reunião com uma mudança de posição da tutela em relação às garantias anteriormente dadas quanto a este assunto, estranheza maior por tal acontecer a escassos quatro meses das eleições legislativas.
Segundo o secretário de Estado, a criação do Centro Hospitalar do Ribatejo tem por base um estudo realizado mas que não foi apresentado aos autarcas, que entretanto o solicitaram.
Ficaram também por responder questões essenciais como a existência de serviços de urgência medico-cirúrgica e medicina interna (entendidos consensualmente no executivo tomarense como a espinha dorsal de uma unidade hospitalar local), quais as valências de cada unidade e como será resolvida a questão do transporte de doentes que já hoje é extremamente complicada.
Da parte da tutela, vieram essencialmente argumentos de ordem administrativa e financeira, defendendo que este novo modelo de organização permitirá melhorar as condições dos hospitais através da criação de uma central de compras e de serviços concentrados de back-office.
Para a presidente da Câmara de Tomar, porém, a grande preocupação é com o direito da população a ter a prestação de cuidados de saúde nas devidas condições e o mais próximo possível do domicílio. Anabela Freitas teme que, entre outros problemas, se obrigue os utentes a serem encaminhados para Lisboa, quando há uma tendência natural para os tomarenses se dirigirem aos hospitais de Coimbra, nos casos em que há necessidade disso.
Mas também nas questões mais simples, se já é complicado para as pessoas dirigirem-se para Abrantes, mais complexo será terem que se deslocar para Santarém.
Já esta manhã, houve uma reunião extraordinária da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo em que o sentimento unânime foi de que tem que haver racionalização de recursos mas isso não se pode fazer à custa da diminuição dos cuidados de saúde às populações.
Anabela Freitas entende que, a ir para a frente, o Grupo Hospitalar do Ribatejo vai prejudicar a população de Tomar e, nesse sentido, manifesta a sua vontade de partir para a sua defesa, o que passará, no imediato, pela reunião de Câmara extraordinária da próxima quinta-feira."

Sem comentários:

Enviar um comentário