“Honrem a memória dos vossos benfeitores. Não é “homenageando-os” com ramos de flores no dia 2 de Novembro e, posteriormente, desbaratarem o que foi legado com tanto gosto e generosidade”, escreve Maria Clementina Gonçalves da Silva Pena de Andrade, familiar de um dos beneméritos, num artigo recentemente publicado na imprensa local.
Em agosto de 2014 a Misericórdia colocou à venda quatro habitações situadas no Dafundo, S. Pedro do Estoril, Algueirão – Mem Martins e Calçadas (Tomar) e cinco terrenos localizados em Chãos, Ferreira do Zêzere. Nem todos os imóveis foram vendidos e já este ano foi publicado novo anúncio para venda.
Inconformada com estas alienações, Maria Clementina Pena de Andrade, escreveu uma carta aberta ao Provedor e Mesários da Santa Casa da Misericórdia de Tomar que a seguir transcrevemos:
“Como representantes e responsáveis de uma Instituição de Solidariedade Social de grandes e honrosas tradições ao longo dos séculos considerada “porto seguro” para muitos milhares de portugueses, gostaria de lhes transmitir o que sinto, neste momento.
Sou sobrinha de Fernando Vieira Gonçalves da Silva, benemérito da Santa Casa, à qual legou bens avultados com o intuito de serem correcta e dignamente geridos, em benefício dos vossos utentes.
Entre esses, destaco um apartamento T3, em S. Pedro do Estoril, situado a 1 minuto da estação e à mesma distância da praia. Esse andar esteve alugado durante vários anos e, quando há cerca de dois, o inquilino resolveu sair, tentou por vários meios contactar a Santa Casa sem êxito, acabando por remeter as respectivas chaves pelo correio…
A partir daí, o apartamento foi-se degradando e o logradouro tornou-se inóspito, com ratos e cobras. Tentei fazer-lhes chegar esta informação, juntando fotografias. O Administrador do Condomínio fez o mesmo, tendo ameaçado participar a situação às entidades competentes.
Passado algum tempo, tive conhecimento que o apartamento fora alvo de uma visita por parte de elementos da Misericórdia e decidida a sua alienação.
Em conversas tidas com mesários, desde da primeira hora, revelei a minha discordância e revolta por tal decisão, pedindo-lhes que a mesma lhes fosse transmitida.
Sei, agora, que continuam com os mesmos intuitos. Peço que reflictam e honrem a memória dos vossos benfeitores.
Não é “homenageando-os” com ramos de flores no dia 2 de Novembro e, posteriormente desbaratarem o que foi legado com tanto gosto e generosidade.
Não se podem fazer obras de fachada e megalómanas à custa da venda, a preço de saldo, de património de características excepcionais.
Aquele apartamento aluga-se de um dia para o outro e por uma renda alta.
Gerir é tarefa difícil, mas o equilíbrio, a ponderação e o bom senso não poderão desaparecer, especialmente quando se trata de uma instituição como a vossa.
Com os melhores cumprimentos”
Maria Clementina Gonçalves da Silva Pena de Andrade
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