segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Tomar em destaque no suplemento ‘Fugas’ do ‘Público’

Café Paraíso, Tuk Lovers, Taverna Antiqua e Hostel 2300 Thomar são algumas das referências que o suplemento ‘Fugas’ do ‘Público’ de sábado, dia 30, faz na rubrica “Volta a Portugal em 80 dias”.
Ao volante de um Citroën C4 Cactus, três jornalistas do Público estão a dar a Volta a Portugal através das estradas secundárias e por estes dias passaram por Tomar.
Sobre os dois dias de passagem pela cidade, leiam o que escreveu o jornalista Jorge Flores:
“Rimbaud que me perdoe, mas a cerveja prefiro bebê-la no Paraíso. No Café Paraíso, em Tomar. No inferno escolherei uma bebida mais forte para o diabo não achar que sou um menino.
Na terceira semana de estrada na nossa Volta a Portugal de Citroën C4 Cactus desviámos a rota para Tomar. Culpa minha, que acredito que devemos sempre voltar às cidades onde fomos felizes. Não há quem não tenha um familiar, um amigo, um amor ou uma história nesta terra ribatejana. Senti que voltava a casa quando entrei no Paraíso. O café continua firme na Rua Serpa Pinto.
Sempre nas mãos da família Mota, desde 1911. Tudo começa aqui. “De manhã é o paraíso, de facto, de tarde, o purgatório e à noite o inferno”, brinca Xana, gerente do café há mais de duas décadas.
Aqui vêm as famílias comer as suas torradas matinais, os ressacados da noite para beber o primeiro café da tarde e os mesmos ressacados da tarde para o primeiro copo antes de se lançarem na noite tomarense. Os tomarenses têm uma particularidade: partem aos bandos à procura de oportunidades, mas não perdem a oportunidade de bater no peito e gritar as suas origens. Diz quem nunca partiu. “Um dia, chegou um senhor a quem atendi porque a casa estava cheia e andava a dar apoio às mesas. No fim, antes de pagar, o senhor virou-se para mim e perguntou-me se o atendimento era sempre assim tão simpático, ou se tinha sido assim por ele ser quem era”, conta. E a Xana? “Perguntei-lhe logo: ‘ai sim, e quem é o senhor?’”. Parece que se tratava de “um ministro qualquer”, mas ainda hoje não sabe o seu nome.
A Rua Serpa Pinto, também conhecida como a Corredoura, uma vez que os templários treinavam os seus duelos a cavalo nesta artéria, é o principal eixo de Tomar. Conta-se que um turista norte-americano passou toda a semana de férias sem tirar os pés da rua. Convento de Cristo? Sinagoga judaica? Não, obrigado, já tinha visto os monumentos históricos na Net.
Sónia Pais sempre viveu na cidade, mas trabalhou muitos anos como responsável da Escola de Hotelaria e Turismo de Santarém. Hoje gere o Hostel 2300 Thomar — na mesma rua. Considera que a cidade começa a despertar de um pesadelo. “Há uns anos, nesta rua, só se viam lojas fechadas, mas agora estão todas a abrir. Há muitos jovens a investir nos seus negócios.” O seu hostel, o primeiro da cidade, ainda repousa depois de um fi m-de-semana “de loucos” devido à festa dos Cem Soldos ali ao lado. Jura que fica amiga de todos os clientes. Mark, um inglês de nariz vermelhusco, apaixonou-se pelo hostel, pela gerente e pela terra.
Tudo ao mesmo tempo. E decidiu ficar! Se possível ser tomarense! Sónia Pais arranjou-lhe uma casa e ele ainda hoje anda pela cidade a dizer a quem o queira ouvir: “Já tenho a minha casinha em Tomar! Já tenho a minha casinha em Tomar!”...
A Rua Serpa Pinto desagua na Praça da República e ao fim da tarde ainda não saíra da mesma rua. As conversas sucediam-se. Todos se conhecem.
Luís Campos e a namorada Catarina estacionam as suas Piaggio transformadas para albergar duas pessoas. Há dois meses lançaram os Tuk Lovers, uma empresa que faz visitas guiadas de Piaggio. Açoriano de raiz, Luís foi adoptado pela cidade em 1998. “Vamos dar uma volta?”.
Vamos pois! Percorremos as ruas por onde os carros não passam, espreitámos o Convento de Cristo de um ângulo improvável, passeámos pelo interior da Mata dos Sete Montes e ainda nos demos ao luxo de ir até ao Aqueduto de Pegões roubar figos. Luís ia explicando a história da cidade informalmente. Mais do que aos livros, a informação bebeu-a da população mais velha. Uma cultura viva.
O passeio terminou na praça central, onde se encontra também a Taverna Antiqua, o restaurante de Emanuel Rosa. Nascido em Leiria, este jovem de 30 anos veio para cá estudar restauro. Agora, com outro sócio, têm uma empresa de “restauro e outra de restauração”. O restaurante a que muitos chamam medieval devido ao ambiente rigoroso da época começa finalmente a ganhar músculo, depois de um primeiro ano complicado. “Nesta cidade é difícil fazer algo de diferente, mexer com o estabelecido”, revela.
Em tempos esteve para trazer para a cidade um investimento grandioso de uma empresa que pretendia fazer uma feira medieval dentro do Convento de Cristo. Os responsáveis do monumento deram o “sim”, mas o status quo camarário não deixaria avançar a ideia.
A ideia inicial era beber um hidromel, bebida típica da Taverna Antiqua. Mas não havia e acabámos por jantar. E por provar antes a aguardente do avô de Emanuel. Quando é do avô é sempre pior. Faz-nos querer ficar. Pelas 5h da manhã cheguei a temer que me acontecesse o mesmo que a Anthony, um físico irlandês, de 73 anos, olhar intenso e rabo de cavalo branco. “Andava a dar a volta ao mundo há nove anos... até que chegou a Tomar”, conta Emanuel. E então? “Já cá está há três anos, apesar de continuar a dizer que está a caminho de Marrocos e que apenas parou para descansar”...
A purga da cebola
Depois das frenéticas 48 horas de Tomar, o ziguezaguear nas serras do Luso, Caramulo e Buçaco embalou o C4 Cactus, que parecia conduzir-se sozinho. (…)”


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