Este é o relato de alguém que passou alguns dias deste mês de março na unidade de Abrantes do Centro Hospitalar do Médio Tejo.
Não há nada como ver in loco as carências básicas que se verificam nos serviços desta unidade.
Aqui fica o registo de alguns problemas detetados e de alguns desabafos do pessoal auxiliar, enfermeiros e médicos.
No hospital de Abrantes não há batas apropriadas para os doentes que vão ser submetidos a intervenção cirúrgica. Improvisa-se uma bata descartável em papel tamanho xxl (tipo saco) e corta-se as mangas com uma tesoura para que sirva à paciente.
Não havia algália para aplicar na paciente e as enfermeiras tiveram de recorrer ao serviço de urologia e usar algálias próprias para homens.
Na sala de cirurgia o anestesista queixa-se que não há água quente para lavar as mãos antes da operação.
No corredor uma funcionária desabafa com outra que não há papel higiénico, nem toalhetes, nem sabonete, nem champô. Têm de fazer o exercício diário de tirar material de quartos que estão vazios para colocar nos ocupados. Durante vários dias as funcionárias fazem das tripas coração para que nada falte nas casas de banho.
Outra funcionária que trabalha no hospital de Abrantes há mais de 20 anos lembra-se que nessa altura os doentes podiam comer dois pães ao lanche com cinco tipos de conduto à escolha. Hoje em dia o lanche resume-se a um pão, uma porção individual de manteiga e chá ou leite com café à escolha.
Os doentes deixaram de ter direito a água engarrafada. Quem quiser beber água ou bebe da torneira ou traz de casa.
Nestes cortes sucessivos os funcionários também “apanham por tabela”. Até há pouco tempo quem quisesse tomar banho no final do serviço podia usar as toalhas do centro hospitalar. Agora os funcionários têm de trazer toalhas de casa.
Na ala da obstetrícia não há pulseiras de segurança para todos os bebés. Ou seja, faltam pilhas para as pulseiras e por isso só alguns bebés usam esse sistema de segurança sem o qual é possível sair da maternidade sem acionar o alarme.
Quase todos os meses há mudanças nos procedimentos administrativos nos serviços. Os funcionários são apanhados de surpresa porque muitos não são informados. Os doentes andam a “saltitar” de piso em piso porque não há quem saiba exatamente onde se trata dos assuntos. São frequentes as reclamações dos utentes.
No seio dos médicos, enfermeiros e auxiliares há um desânimo instalado generalizado. Lamentam a falta de material e as constantes mudanças, muitas delas sem justificação plausível.
Apesar de todas as dificuldades há que elogiar todos os profissionais do Centro Hospitalar do Médio Tejo que são incansáveis com os doentes.
A falta de material no hospital de Abrantes foi notícia no jornal Correio da Manhã e motivou um esclarecimento da adminisração do CHMT, que aqui reproduzimos:
Esclarecimento
Face à notícia publicada hoje num órgão de comunicação social nacional sobre a Unidade Hospitalar de Abrantes do CHMT, referindo “falta de material clínico” que levam à necessidade de os profissionais “encontrarem soluções alternativas para o cuidado aos doentes”, o Conselho de Administração reafirma veementemente o que disse directamente à Sra Jornalista quando questionado. Assim,
1. Não houve, nem há, qualquer falta de material clínico no CHMT, designadamente na Unidade de Abrantes, que coloque em causa os cuidados prestados aos doentes ou leve os profissionais a encontrar “soluções alternativas” para esses cuidados.
2. Não houve, nem há, qualquer problema de fornecimento de medicamentos no CHMT, designadamente na Unidade de Abrantes, que coloque em causa o tratamento de qualquer doente.
3. Acrescenta-se que o CHMT não tem, também ao contrário do que é escrito na notícia, qualquer problema de carência de profissionais no sector de enfermagem.
O CHMT tem, como é público, um ratio Enfermeiro / Cama activa de 1,58 o que permite a prestação de cuidados de forma segura e adequada.
O Conselho de Administração do CHMT enfrenta desafios de enorme complexidade desde que iniciou funções em Dezembro de 2011.
A sustentabilidade das 3 Unidades que o compõem é uma tarefa com uma dimensão social muito forte e é imprescindível que o seu equilíbrio seja mantido.
Lamenta que se promovam “denúncias” ou “ataques” ao funcionamento de 1 Unidade, porque, objectivamente, é todo o Centro Hospitalar que é posto em causa e, com ele, a segurança de cerca de 2000 colaboradores e a assistência a uma população de cerca de 250.000 pessoas.
O Presidente do Conselho de Administração
Joaquim Nabais Esperancinha (Eng.º)
http://www.facebook.com/tomarnarede
http://tomarnarede.blogspot.pt
tomarnarede@gmail.com
Sem comentários:
Enviar um comentário