quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Fatias de Cá: do teatro ao cinema


O grupo de teatro Fatias de Cá, de Tomar, vai estrear publicamente o seu primeiro filme. Trata-se de “Ligações Perigosas”, peça filmada  em vários espaços do Convento de Cristo.
A estreia está marcada para dia 1 de março, sexta feira, no Cine Teatro de Tomar, integrada no programada das comemorações do feriado municipal.
A sessão começa às 21.21 horas. A entrada custa 7,77 euros mas inclui a oferta do DVD.
As reservas podem ser feitas em reservas@fatiasdeca.net ou pelo telefone 960303991.

Sobre a ideia de passar a peça de teatro para o cinema, recuperemos uma crónica publicada pelo encenador Carlos Carvalheiro no site do grupo www.fatiasdeca.net) e no jornal O Templário:


AS LIGAÇÕES PERIGOSAS

“Em 1996, o Fatias de Cá estava numa situação terminal: não tinha espetáculos em cena, estava tecnicamente falido e o elenco estava reduzido a meia dúzia de pessoas.
Foi por isso que se decidiu fazer uma última tentativa: montar em teatro “As Ligações Perigosas”, a partir do romance de Choderlos de Laclos, que conta a história da perversa e fascinante marquesa de Merteuil que, para se vingar da traição do seu atual amante, o conde Gercourt, pede ao seu antigo amante, o visconde de Valmont, um ser tão amoral e tão cínico quanto ela, para seduzir a jovem e inocente Cécile de Volanges, noiva de Gercourt. Mas o verdadeiro desafio para Valmont era seduzir Madame de Tourvel, uma mulher casada e virtuosa…
E ficou logo combinado que, se não resultasse, eu faria sozinho um espetáculo de despedida (“A Missão” de Ferreira de Castro) e acabávamos com o Fatias de Cá.
O grupo de trabalho era constituído, para além de mim, por um conjunto de belíssimas atrizes — Ana de Carvalho, Ana Paula Eusébio, Gabriela de Azevedo, Isabel Passarito e Joana Jacob — todas com largos anos de ligação ao Fatias de Cá, ao qual se juntou a Teresa Borges e um jovem ator que, a meio do processo,foi comprar tabaco e nunca mais voltou. Para o substituir teve de se “requisitar” o Paulo Moura porque o protagonista, Valmont, precisava de ser morto em duelo, no final.
Juntámo-nos em estágio, lemos as adaptações para teatro de Christopher Hampton e de Heiner Müller (“Quarteto”) e o guião do filme de Milos Forman (“Valmont”) e fomos construindo a nossa estrutura dramatúrgica durante uns quinze dias, à medida que as cenas iam sendo escritas iam sendo ensaiadas, isto até à estreia, coisa que naturalmente enervava bastante as atrizes.
A estreia aconteceu no Convento de Cristo, em Tomar, em 30 de Agosto, e arriscaram-se quatro espetáculos por semana, durante o mês de Setembro. Contrariamente a tudo o que se podia imaginar, foi um sucesso de público. Na penúltima sessão, com lotação esgotada, chovia tanto que teve de se interromper o espetáculo. Quando se sugeriu aos espetadores para irem à bilheteira para lhes ser devolvido o dinheiro, todos recusaram dizendo que viriam no último espetáculo. Quando lhes foi dito que o último espetáculo também já estava esgotado, disseram que não fazia mal, apertavam-se todos um pouco. E assim foi.
Depois, o Fatias de Cá veio a concretizar novos sucessos, como o “Tanegashima” em 1997, o “T de Lempicka” em 1998, o “Viriato” em 1999, o “Sonho de uma Noite de Verão” em 2000, etc., que isto também não é a lista telefónica, tudo espetáculos que continuam em cena e por cá se anda.
“As Ligações Perigosas” fizeram uma carreira de mais de 100 apresentações, para além das do Convento de Cristo, em Lisboa (Palácio Foz, Palácio Fronteira e Palácio Pancas Palha) e Coimbra (Mosteiro de S. Jorge de Milréus) e encerrou a carreira no Festival de Teatro de Caracas (Venezuela) em 2005. Passados dez anos, estávamos todos a ficar um bocado coirões para as personagens que interpretávamos e decidimos então filmar a peça.
Conhecemos o António Bento Palma e a Nacional Filmes, gostámos uns dos outros e partimos para as filmagens, em 2007. Seguiu-se um longo período com incidentes vários que faziam parecer a edição uma espécie de “inferno socialista”, onde faltava sempre algo para se concretizar a coisa até que, finalmente, se chegou aos finalmentes.
E aí estão “As Ligações Perigosas” do Fatias de Cá filmadas no Convento de Cristo prontas para serem vistas em ecrã de cinema.
Sobre o autor do romance, Choderlos de Laclos (1741-1800), vale a pena acrescentar que os privilegiados não lhe perdoaram ter sido um revolucionário e os revolucionários inquietaram-se ao vê-lo tão bem informado dos prazeres dos privilegiados.”






http://www.fatiasdeca.net/

tomarnarede@gmail.com

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